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Galeno: Da exuberância natural do Piauí à selva de pedra de Brasília

Galeno: Da exuberância natural do Piauí à selva de pedra de Brasília
Por Lucrécio Arrais
 
Com uma obra marcada pelo abstracionismo associado a instrumentos do cotidiano, seus trabalhos têm aspectos regionais e surrealistas.
 
Artista tem obra marcada pelo abstracionismo
 
Francisco de Fátima Galeno Carvalho, artista plástico autodidata, nasceu no Morro da Mariana, região da Ilha Grande de Santa Isabel, município de Parnaíba, Piauí. Com uma obra marcada pelo abstracionismo associado a instrumentos do cotidiano, seus trabalhos têm aspectos regionais e surrealistas.

Entre uma infância entre as paisagens resplandecentes de Brasília com as cores luminares do Delta do Parnaíba, a cor e o movimento geométrico terminam sendo a base para figurações de lamparinas, pipas, casas, antenas de televisão e outros elementos.

Galeno fugiu do retratismo para buscar nas coisas sua própria identidade. Em uma busca do ser verdadeiro eu através da pintura, ele mostra uma mente criativa e um legado artístico repleto por obsessões em cores, movimentos e paisagens.

Galeno encanta público com traços simples

Em uma viagem dentro da própria lembrança, Galeno propõe uma imersão entre a vida sertaneja e o encantamento com a selva de pedras da capital federal, Brasília. Entre mares, canoas, boiadas e a revoada dos pássaros, contemplar o trabalho do artista é se encantar com traços simples.

Mas são os traços simples de Galeno que transformam a subjetividade com sua métrica visual complexa em originalidade. Para NOSSA GENTE, ele fala sobre a própria bagagem cultural em tantos anos de carreira.

“Através da arte posso falar de mim. Da minha infância e de onde vivi. Através da memória falo da infância, família”

JMN: Qual seu conselho para quem quer seguir carreira na área?

G: Tenha confiança. Seja sincero. Procure dialogar com seu universo e onde você está. É dedicar-se, estudar e conversar. Ver muita arte.

JMN: Qual o maior desafio de ser um artista plástico no Piauí?

G: O desafio é encontrar um caminho, adquirir uma linguagem e através disso mostrar quem é você. Depois é conseguir sobreviver do seu trabalho, no caso sendo artista plástico. Aqui no Piauí ainda não há o consumo sistemático de pinturas, esculturas que falam da arte moderna e contemporânea. Esse consumo é maior no artesanato.

JMN: Você acredita na arte como um potencializador das emoções humanas?

G: No meu caso sim. Através da arte posso falar de mim. Da minha infância e de onde vivi. Através da memória falo da infância, família,. Não é só a história da arte. Falo dos meus antepassados. Através disso eu me posiciono como pessoa e cidadão. Através dela mostro quem sou.

JMN: Que tipos de materiais você usa?

G: Vários. Óleos, madeira, ferro, alumínio, tinta a óleo. 

JMN: Quando começou a pintar profissionalmente?

G: A partir dos 23 anos. Ante trabalhava em um banco. Nesse período estudei música e fiz teatro. Sempre fiz desenhos sem grandes pretensões. Mas aí resolvi abraçar as artes plásticas porque vi que tinha mais facilidade de me expressar.

JMN: Como o senhor classifica seu trabalho?

G: É um trabalho situado numa realidade periférica. Por eu ter nascido e crescido na periferia, tanto aqui no Delta como em Brasília. Vi, de uma família de artesãos, então a cultura popular sempre esteve presente. Mas sempre estive flertando com a arte moderna. Meu bisavô fazia canoas, meu avô era vaqueiro e artesão, pois ele mesmo fazia seus instrumentos de montaria. Meu pai marceneiro e minha mãe rendeira.

JMN: O senhor usa de abstrações que passeiam entre figuras geométricas e o colorido. De onde vem sua inspiração?

G: Eu sempre procurei falar do universo onde vivo. Dentro da figuração como também paisagens. Figuras humanas? Tem um tempo que decidi fugir desse caminho pois senti necessidade de falar de coisas mais pessoais. Foi quando resolvi falar através da pintura. Da minha a infância aqui no Delta do Parnaíba. Além do tempo que passei em Brasília. Coisas lúdicas. Brinquedos como pipa, carreteis, carrinhos feitos de lata de sardinha, peão e também a natureza. O camaleão, muito presente em minha infância. Meu pai era lavrador e pescador. Daí as canoas, as cores… Foi a união de infâncias vividas entre o Delta e Brasília. A união de cores com a geometria da arquitetura de lá, com aqueles grandes espaços vazios e luminosidade.

Jornal Meio Norte: O senhor sempre se interessou por arte?

Galeno: A partir dos 17 anos. Depois descobri meu talento aos 18.

Entrevista publicada originalmente no Jornal Meio Norte.

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