Por Maurício Thuswohl
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro cobra uma investigação sobre a atuação de Moro
Advogado criminalista que calcula ter defendido quatro presidentes da República e 80 governadores, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, foi uma das primeiras vozes a se levantar contra os abusos do ex-juiz Sergio Moro e dos procuradores de Curitiba, ainda no início da Operação Lava Jato. Ligado aos desdobramentos processuais desde o primeiro dia do inquérito, por assumir a defesa do doleiro Alberto Youssef, Kakay sempre denunciou o papel político cumprido por Moro e pela força-tarefa comandada por Deltan Dallagnol.
Moro hoje almeja a Presidência da República e Kakay pede que a conduta do ex-juiz na Lava Jato seja objeto de investigações mais aprofundadas: “O Brasil tem o direito de saber”. O advogado questiona quais interesses estiveram e estão por trás do pré-candidato pelo Podemos. “O pré-sal foi liquidado. A interesse de quem?”, questiona. Kakay também critica o contrato de trabalho estabelecido entre Moro e a empresa de consultoria norte-americana Alvarez & Marsal, que atua no gerenciamento de verbas oriundas das empresas brasileiras quebradas pela Lava Jato: “Como imaginar um indigente intelectual fazendo um contrato desses?”
A íntegra da entrevista em vídeo, na qual Kakay fala também dos processos contra Jair Bolsonaro e família e da nova composição do STF, está no YouTube de CartaCapital.
Na Alvarez & Marsal
O Moro assumiu a capa que secretamente sempre vestiu, a de funcionário de uma empresa americana. Temos de investigar isso. Parece-me que há um claro conflito de interesses, porque este senhor – que atuou não como juiz, mas como um perseguidor – assumiu recentemente que foi o “chefe” da Lava Jato e, ao que tudo indica, cumpria interesses de grupos específicos. Foi contratado pela empresa a 45 mil dólares por mês. Qual a capacidade técnica e intelectual que tem o Moro? Como você pode imaginar um indigente intelectual fazendo um contrato desses, se não for algo que realmente represente algum interesse que nós temos de investigar? O Brasil tem o direito de saber. Eu elogio a postura do Tribunal de Contas da União. Por aqui, o óbvio às vezes tem de ser elogiado.
A serviço dos EUA?
Demorei a afirmar isso porque só gosto de falar do que tenho provas, e não sou leviano como o Moro e o Deltan, que só precisam de impressões e convicções. Mas, a partir do momento em que se avolumou uma série de evidências, isso tem de ser investigado. Em qualquer lugar do mundo, a investigação contra a corrupção se dá enfrentando os diretores e presidentes de empresas. Aqui o Moro deliberadamente quebrou as empresas. Ele enfrentou as empresas brasileiras que atuavam no pré-sal, que seria uma coisa maravilhosa para o Brasil, mas foi liquidado. A interesse de quem?
Partido da Lava Jato
Temos de fazer essa investigação até porque foram disponibilizados, em um primeiro momento, 3 bilhões de reais de um fundo para que o grupo da Lava Jato fizesse a gerência. Felizmente, o ministro Alexandre de Moraes – que cumpre um papel que a História há de reconhecer – impediu o uso disso, senão teríamos certamente o maior partido político do Brasil. Um bando de corruptos com bilhões para poder fazer política. Agora, todos saíram. Ou foram expulsos como aquele Castor de triste memória. É um grupo que, além de ter feito, comprovadamente, a opção por corromper o sistema de Justiça, é ridículo. São fracos intelectualmente, pessoas que nunca leram uma poesia. Eles se julgavam heróis, mas, se tivessem lido Brecht, saberiam que triste é um país que precisa de heróis.
Prejuízo ao País
O dano que eles trouxeram para o Brasil e a nossa população é muito grande e precisamos fazer o real enfrentamento disso. Eles dizem que devolveram aos cofres públicos 14 bilhões de reais dos acordos de leniência, mas há estudos que mostram que só o prejuízo em relação à Lava Jato foi de 172 bilhões. Isso, sem falar do que ocorreu no Brasil pós-operação. Temos hoje um gigantesco contingente de desempregados. O setor de petróleo foi liquidado. Isso foi à toa ou havia o interesse de outras empresas?
Processo contra Moro
Moro foi julgado pelo Supremo como um juiz que corrompeu o sistema de Justiça. O STF considerou-o parcial e incompetente, tecnicamente falando. Não há nada mais grave do que um juiz ser parcial. Imagina se o teu time vai jogar a final do campeonato de futebol e na noite anterior você descobre mensagens do árbitro para o técnico do outro time, dizendo: “Pode cair na área que dou pênalti”. Foi isso o que o Moro fez na Lava Jato. Não há dúvida de que este cidadão tem de sofrer uma investigação séria. Não se pode ter uma decisão do STF dizendo que ele mercadejou a toga e corrompeu o sistema de Justiça e não ter punição.
Objetivos políticos
Moro tem o direito de ter um objetivo político, só que não pode fazer isso instrumentalizando o Poder Judiciário e o Ministério Público. O que ele fez é criminoso. Chegou ao ponto de mandar prender o principal opositor desse fascista que hoje é o presidente do Brasil. Ainda com a toga nos ombros, aceitou ser ministro de Bolsonaro. Por muito menos, Moro prendeu numerosas pessoas na Operação Lava Jato. Se ele tivesse coerência, teria de determinar a prisão de si próprio. Aceitar ser ministro de um governo do qual você foi o principal cabo eleitoral é um caso clássico de corrupção. O Ministério da Justiça foi uma contrapartida. Moro mercadejou a toga.
Perfil do ex-juiz
Como advogado eu conheço o Moro desde a época da Operação Sundown e já estranhava seus métodos, mas não vislumbrava até então essa orientação política que ele tem. Logo no início da Lava Jato ficou claro para mim que ele coordenava a operação e os procuradores com um objetivo político. Corri o Brasil durante anos denunciando-o em uma época em que ele era um semideus. Ali, eu vislumbrava o que está acontecendo agora. O Moro é um indigente intelectual. Ele nunca pretendeu ser ministro do Supremo porque sabe que não tem condições para isso. Ele jamais sentaria em um plenário para discutir com Lewandowski ou Mendes.
Entrevista publicado originalmente na Carta Capital.
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