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Pandemia

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Ao menos quatro providências não foram tomadas pelo governo

Em visita a Nicolas Sarkozy, Lula ouviu do ex-presidente francês que o mundo estava sendo governado ou por loucos ou por técnicos, não havendo espaço para a grande política. Mencionou três dos loucos, cujos nomes, por discrição, não revelo, confiando à imaginação do leitor a fácil tarefa de desvendá-los.

Essa circunstância agrava as condições de enfrentamento da pandemia de coronavírus, que, em si, já não são nada simples. Se quem deveria liderar a nação, além de incapaz, for mentalmente perturbado, os danos sociais, que já são grandes, podem se tornar irrecuperáveis.

É claro que até os negacionistas torcem por uma pronta resposta da ciência, vacina ou remédio. E, se ela vier, tanto melhor para dízimos e dividendos. Mas estadistas não podem contar com o melhor dos cenários. Ao Estado cabe preparar-se para o pior.

A postura tresloucada de líderes tem valorizado em demasia, por contraste, a conduta dos que têm assumido um discurso responsável. Mas também tem permitido que a avaliação crítica das ações governamentais fique em segundo plano.

Há pelo menos quatro providências que ainda não foram tomadas ou foram tomadas tardiamente:

1) Testes em massa e distanciamento social reduzem drasticamente a proliferação da doença, medida fundamental para que o sistema de saúde não colapse. Apesar dos alertas da OMS, recomendando a prática, o governo nada fez e, diante da falta de comando, as autoridades subnacionais adotaram medidas descoordenadas;

2) Ampliação de leitos de UTI: se a proliferação não for contida, os leitos de UTI disponíveis não serão suficientes. Ainda que tenha havido um enorme incremento no período 2003-16 –cerca de 12 mil–, teríamos que contratar a abertura de pelo menos 5 mil novos leitos, contando com o “achatamento” da curva de contágio;

3) Recomposição do Mais Médicos: sem ele, será afetada a vida dos mais pobres quando a epidemia chegar aos rincões e periferias do país. Outra providência é retomar o Revalida (validação de diploma de médicos formados no exterior);

4) Regulação da comercialização dos insumos necessários ao enfrentamento da pandemia, inclusive quanto ao comércio exterior: enquanto ela durar, o provisionamento de insumos precisa ser garantido por ação governamental.

Se a ciência não nos trouxer uma solução imediata, a política terá que nos entregar mais do que temos tido.

Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo.

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