Estudo recomenda mais restrições
Um novo relatório de 25 páginas publicado hoje pelo Imperial College de Londres, com foco específico no Brasil, recomenda ações mais duras para conter a expansão do novo coronavírus. “Mesmo que a epidemia brasileira ainda seja relativamente nascente em escala nacional, nossos resultados sugerem que mais ação será necessária para limitar sua expansão e evitar a sobrecarga do sistema de saúde”, afirmam os pesquisadores no documento, obtido com exclusividade pelo G1.
Eles analisaram, em 16 estados brasileiros afetados pela Covid-19, o impacto das medidas de prevenção adotadas. “Não está claro ainda se foram eficazes para reduzir a transmissão do vírus no país”, dizem. “Os casos relatados mais que dobraram nos últimos dez dias e demonstram pouco sinal de arrefecimento.” Diante do crescimento rápido, afirmam que é preciso entender melhor a situação para “orientar as decisões políticas que objetivam evitar a piora na emergência na saúde”.
Com base em modelos estatísticos, os cientistas estimaram a proporção da população infectada nos 16 estados. Apenas no Amazonas, segundo eles, o número supera os 10%. Nos demais estados mais atingidos – São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco (juntos, os cinco somam 81% dos infectados) –, está entre 3% e 4%. No resto do país, mal supera 1%.
A levar em conta a estimativa, a parcela da população que já adquiriu alguma imunidade contra a Covid-19 está muito aquém do patamar considerado necessário para controlar a epidemia, entre 60% e 80%, nível que reduz a chance de circulação do vírus e garante o que os cientistas chamam de “imunidade de rebanho”.
“É importante notar, contudo, que continua difícil estimar a extensão em que as mortes estão subnotificadas. Consideramos, portanto, vários cenários diferentes na nossa análise”, dizem os cientistas. “Embora diferenças nessas hipóteses alterem as estimativas quantitativas, elas não alteram as conclusões qualitativas sobre o impacto das intervenções de controle e sobre a proporção da população infectada até agora estar aquém do limiar necessário para a imunidade de rebanho.”
O relatório avalia que as medidas de isolamento social no Brasil, como fechamento de escolas e redução na mobilidade, reduziram o contágio pelo novo coronavírus nos 16 estados. Nas não o suficiente. Para chegar à conclusão, eles avaliaram o comportamento do indicador usado pelos epidemiologistas para acompanhar velocidade de contágio, conhecido como “número de reprodução”, ou R. Tal número corresponde aproximadamente à media de pessoas a quem cada infectado pela doença transmite o vírus.
Para manter a epidemia sob controle, é necessário reduzir o R abaixo de 1. “Um número de reprodução acima de 1 significa que a epidemia não está ainda controlada e continuará a crescer”, afirmam os pesquisadores. No caso brasileiro, eles avaliam que o R caiu 54% do patamar inicial, estimado em torno de 3 e 4. “Reduções substanciais no número de reprodução médio já foram alcançadas por meio das intervenções”, escrevem.
Mas o esforço, ainda que necessário ainda não bastou. “Os resultados mostram que até agora as reduções na mobilidade não foram rigorosas o bastante para reduzir o número de reprodução abaixo de 1”, afirmam. “Essa tendência está em franco contraste com outras epidemias de Covid-19 na Europa e na Ásia, onde quarentenas forçadas reduziram com sucesso o número de reprodução.”
“De modo mais amplo”, concluem os cientistas, “nossos resultados sugerem que, na ausência de novas medidas de controle que reduzam a transmissão, o Brasil encara a perspectiva de uma epidemia que continuará a crescer exponencialmente.”
Reportagem publicada no G1.
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