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Transparência por um Estado íntegro

Transparência por um Estado íntegro

Por Vinícius Marques de Carvalho

Foram identificados mais de 200 casos de negação de informação escorada em argumentos frágeis

Nos últimos meses, a atuação da Controladoria-Geral da União (CGU) na promoção da transparência ganhou destaque em razão de uma diretriz do presidente Lula. No primeiro dia de governo, a CGU foi incumbida da revisão do sigilo imposto indevidamente a documentos públicos. A partir da análise de milhares de pedidos de acesso à informação rejeitados, foram identificados mais de 200 casos de denegações de informação escoradas em argumentos frágeis.

Com base nisso, a CGU elaborou enunciados para orientar o cumprimento da Lei de Acesso à Informação e indicou a revisão de centenas de casos. De agora em diante, procedimentos disciplinares de servidores militares são passíveis de acesso público, uma vez concluídos — assim como ocorre com processos de servidores civis. Outro enunciado estabelece que a menção a “informações pessoais” não pode ser usada como justificativa genérica para denegação, já que acesso à informação e proteção a dados pessoais podem ser compatibilizados.

O trabalho realizado evidencia a importância da transparência para a democracia. No mundo todo, a desconfiança nas instituições vem sendo explorada para fins antidemocráticos, com frequência por meio de desinformação. Incrementar a confiança nas instituições é medida relevante para combater uma das principais táticas de erosão da democracia.

O impacto positivo na qualidade das políticas públicas é uma contribuição da transparência à democracia. Ela facilita o controle social sobre a eficiência e a efetividade da alocação de recursos e da prestação de serviços públicos. Políticas públicas bem formuladas e executadas são uma expectativa de cidadãos e cidadãs e condicionam sua confiança nas instituições democráticas.

O potencial da transparência pode ser ainda maior com a incorporação de inovações tecnológicas que promovam a publicação de dados de maneira inclusiva. Para que beneficiem políticas públicas, mecanismos de transparência devem entregar informações compreensíveis, relevantes e acessíveis aos interessados. A bem-sucedida experiência do Portal da Transparência pode avançar na padronização de informações publicadas de forma proativa e no uso de ferramentas digitais de aprimoramento contínuo dos serviços públicos. A retomada do Comitê Gestor da Infraestrutura Nacional de Dados Abertos e a elaboração de novo plano de ações para um governo aberto são medidas fundamentais nessa frente.

A transparência também é fundamental para a promoção da integridade por meio da prevenção e do combate à corrupção. Mecanismos de transparência efetivos, em especial no Orçamento e em compras públicas, estão associados a menores níveis de corrupção. Isso porque permitem a identificação de ilícitos, desincentivando-os pelo risco de exposição e facilitando investigações. É fundamental a ampliação da divulgação ativa de gastos em políticas sociais para outros âmbitos do Orçamento — como renúncias fiscais.

Graças à transparência, a sociedade pode tomar conhecimento de equívocos na gestão, de benefícios indevidos e de decisões sem justificativa legítima. É a transparência, muitas vezes, que catalisa a mobilização social por melhorias em políticas públicas. Por todas essas razões, garantir amplo acesso à informação pública e estimular a transparência deve ser um compromisso incontornável de um Estado democrático, efetivo e íntegro.

Artigo publicado originalmente em O Globo.

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