Por Cintia Alves
Em entrevista ao GGN, diretor do ConJur que tem fé no desfecho da correição que o CNJ promove na 13ª Vara e TRF-4
É injusto que o ex-procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz federal Sergio Moro estejam respondendo sozinhos, e tardiamente, por abusos e irregularidades cometidos no âmbito da Lava Jato. A operação contou com uma força-tarefa “estendida”, ou seja, Moro e Deltan serviram-se de apoio crucial entre setores da imprensa e de outros servidores públicos partícipes das ações que levaram a Lava Jato, em seu auge, a praticamente comandar o destino da Nação.
A avaliação é do diretor do Conjur, Márcio Chaer, em entrevista ao programa TVGGN 20 Horas, transmitido no Youtube de segunda a sexta pelo jornalista Luis Nassif [assista abaixo].
“É injusto que Moro e Deltan estejam respondendo sozinhos por isso. Nós tivemos uma força-tarefa alargada, da qual fizeram parte advogados, juízes, delegados, auditores fiscais que falsificaram, fraudaram investigações”, disparou Chaer, que dirige um dos poucos veículos brasileiros com uma cobertura independente da Lava Jato desde seu início, em 2014.
Chaer lembrou que os métodos heterodoxos da Lava Jato levaram Moro e sua trupe a atingir um nível de influência sem igual na história do Judiciário. Não sem a ajuda de setores da grande mídia que serviram de correia de transmissão dos interesses da Lava Jato. O GGN já divulgou reportagens mostrando como a mídia foi parte da estratégia de poder da força-tarefa.
“Quem governou o Brasil foi esse grupo maluco aí, com um grupo de jornalistas que se dispôs a publicar mentiras para emparedar o Supremo.“
O fim da blindagem
Somente agora, sob o olhar fulminante do Supremo Tribunal Federal, é que o Conselho Nacional de Justiça abriu uma apuração sobre a conduta de Moro e outros magistrados da Lava Jato, assim como Deltan e alguns colegas estão na mira de diversos órgãos por causa do acordo de leniência Odebrecht e outros escândalos na operação.
Até então, Moro, Deltan e outros expoentes da Lava Jato vinham sendo blindados pelos órgãos correcionais. Levantamento feito pelo Jornal GGN com base na Lei de Acesso à Informação mostrou que, nos anos em que comandou a Lava Jato, Moro foi alvo de 11 representações na Corregedoria Regional da Justiça Federal da 4ª Região, e absolutamente nenhuma delas prosperou.
O paradeiro de bilhões de reais
Na entrevista com Nassif, Chaer também comentou o mistério da fortuna fruto de acordos de leniência e delação firmados na Lava Jato e operações derivadas.
Na semana passada, a Procuradoria-Geral da República enviou ao ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, uma petição que pode complicar a vida do time de Deltan Dallagnol e de procuradores da força-tarefa da Operação Greenfield, antes liderada pelo procurador Anselmo Lopes, do Distrito Federal.
A ação contém documentos e evidências que estão na origem da famigerada “fundação Lava Jato”, que a força-tarefa de Curitiba tentou criar usando mais de 2 bilhões de reais em multas aplicadas à Petrobras. A Greenfield tentou fazer o mesmo, mas usando outros 2,3 bilhões de reais de multa ao Grupo J&F.
O paradeiro do dinheiro de acordos de leniência e delação, aliás, segue em sigilo imposto pelos juízos de homologação até hoje. Entre eles, Sergio Moro e seus sucessores. O único a quebrar a cadeia de silêncio foi o juiz federal Eduardo Appio, que acabou afastado da 13ª Vara.
“Esse é um dos mistérios que nós perdemos o nosso principal investigador, que era o juiz Eduardo Appio, que vinha fazendo uma investigação meticulosa. Nós tivemos acesso a planilhas de dinheiro desviado mesmo. Não foi mau uso. Foi desvio, uma espécie de furto qualificado. (…) Até hoje não temos certeza de onde foi parar esse dinheiro. A partir de 2019, o Supremo Tribunal Federal proibiu que dinheiro [de leniência] não fosse para o erário. Mas até 2019, foram desviadas quantias que não sabemos qual o tamanho.”
Extorsão de investigados
O diretor do Conjur disse ainda que a Lava Jato praticou extorsão contra os investigados, para conseguir os bilhões de reais angariados em acordos de leniência e delação premiada.
“Extorquiram empresários. Para que a família deles não fosse para a cadeia e não perdessem suas empresas, eles concordaram em pagar multas altíssimas. Considera-se que o fato de eles terem pagado multas é confissão. Não é confissão. O que houve foi extorsão. É claro que a pessoa para não perder o filho ou a esposa, ou perder a empresa, ela topa pagar a multa. Mas isso não foi confissão de forma alguma”, frisou.
Para Chaer, a Lava Jato deixou de herança “um modelo frágil de combate ao crime. Introduziu-se esse modelo que foi enganação. Foi-se embora a Lava Jato, e a herança é que não temos modelo algum. É parte do mal que essas pessoas fizeram ao Brasil.”
Apesar disso, ele tem expectativa de que a correição extraordinária que o CNJ realizou na 13ª Vara Federal de Curitiba e na 8ª Turma do TRF-4, possa trazer um desfecho à altura do que a Lava Jato merece.
Assista a entrevista completa no link abaixo:
Publicado originalmente no Jornal GGN.
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