Assim como a “Velhinha de Taubaté” – personagem criado pelo escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo durante o último governo militar do general Figueiredo (1979-1985) – que ficou famosa por ser a última pessoa no Brasil a acreditar nos diversos governos, os defensores das “velhinhas” e de todos que participaram dos ataques ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF) na Praça dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, fazem crer que tudo não passou de baderna, arruaça, vandalismo ou coisa que o valha.
Somente a ingênua “Velhinha de Taubaté” que nos deixou, segundo o seu próprio criador, em 19 de junho de 2005, acreditaria na fantasiosa versão daqueles que negam a existência da tentativa violenta de abolição do Estado democrático de direito e de Golpe de Estado.
Veríssimo em um trecho de sua crônica conta que “o relatório final sobre o caso das bombas no Riocentro (atentado terrorista militar) foi feito exclusivamente para a velhinha de Taubaté e teve êxito, pois ela foi a única do país que acreditou”.
Veríssimo se refere ao atentado do Riocentro que ocorreu no dia 30 de abril de 1981 quando se realizava no Centro de Convenções um espetáculo da MPB em comemoração ao Dia do Trabalho. Hoje não há mais nenhuma dúvida que foi um ataque terrorista perpetrado por setores do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Rio de Janeiro com o objetivo de incriminar os opositores da ditadura militar e, assim, retardar a abertura política que se avizinhava. Durante a investigação, numa tentativa de garantir a impunidade dos envolvidos, o Exército forjou evidências responsabilizando organizações de esquerda que, inclusive, se achavam inativas. A farsa foi posteriormente demonstrada.
Qualquer semelhança com a realidade atual não é mera coincidência.

Assim como a finada “Velhinha de Taubaté” que em tudo acreditava, as “velhinhas” e os patriotas de hoje com suas camisas verde e amarela – que são milhares – acreditam, por exemplo, que a última eleição presidencial, realizada através do voto eletrônico, foi fraudada; acreditam na cloroquina como remédio milagroso e, até mesmo, acreditam em mitos.
Chega a ser pitoresco os defensores das “velhinhas” do 8/1 – não a defesa técnica a que todos têm direito – demonstrarem somente agora uma preocupação com o sistema penitenciário brasileiro com cerca de 850 mil encarcerados e que já foi considerado um estado de coisas inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal; clamarem em nome dos direitos humanos, sempre criticado e até considerado como “esterco de bandido”, por clemência para os condenados e presos pelos crimes de tentativa violenta de abolição do Estado Democrático de Direito e de Golpe de Estado e, ainda, defenderem anistia para aqueles que violentaram a democracia que continua sob ataques.
Pensando melhor, nem mesmo a “Velhinha de Taubaté” seria capaz de acreditar que os crimes que culminaram com os ataques aos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023 foram apenas e tão somente atos de baderneiros. Nem mesmo ela acreditaria na fantasiosa história de que o ex-presidente e seus asseclas, inclusive generais, não tentaram abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais e de que, também, não tentaram depor o governo legitimamente constituído.
Não, nem a ingênua “velhinha de Taubaté” acreditaria.

Publicado originalmente na Tribuna da Imprensa Livre.
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