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Projeto Portinari lança catálogo e anuncia mostra do pintor brasileiro na China em 2026

Projeto Portinari lança catálogo e anuncia mostra do pintor brasileiro na China em 2026

Tocado há 46 anos pelo filho do pintor modernista, Projeto busca patrocinadores via Lei Rouanet enquanto prepara o sexto volume de catálogo raisonné, com mais 235 obras

Por Nelson Gobbi

Há 46 anos, inspirado por um artigo do jornalista e romancista Antonio Callado (1917-1997), biógrafo de Cândido Portinari (1903-1962), lamentando a falta de memória sobre o pintor, nascia o projeto que leva o seu nome, idealizado pelo filho, o matemático, escritor e professor João Candido Portinari. Em 1979, não havia nenhuma catalogação sobre a obra do modernista, e, 17 anos após da morte de um dos maiores nomes das artes visuais brasileira, pouco se sabia sobre o paradeiro de seus trabalhos, pelo mundo.

Após instalar-se por um ano na Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, e, depois, na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), na Gávea, Zona Sul da cidade, onde mantém sua sede até hoje, o Projeto Portinari iniciou um trabalho de investigação para descobrir onde estavam as obras criadas pelo pintor entre a década de 1920 e 1962, ano de sua morte, em decorrência da intoxicação com chumbo das tintas que usava, diagnosticada quase uma década antes. Para localizar parte das mais de cinco mil pinturas que, estima-se, tenha feito ao longo da carreira, o projeto contou com parcerias com empresas e instituições como a extinta Varig, então a maior companhia aérea brasileira, os Correios, a TV GLOBO e a Fundação Roberto Marinho. Com campanhas e inserções na TV, mais de 3 mil cartas foram enviadas para a caixa postal divulgada, auxiliando a busca pelas obras a serem catalogadas, além de 25 mil documentos sobre o pintor.

A iniciativa viabilizou a produção do catálogo raisonné dedicado ao pintor, lançado em 2004, durante a 26.ª Bienal de São Paulo. Em cinco volumes, com cerca de 500 páginas cada, foi, segundo João Candido, o primeiro no atual formato (cobrindo todas as obras conhecidas durante a carreira) lançado na América Latina. Agora, ele pretende lançar, até o fim do ano, o sexto volume, com 235 obras novas, catalogadas nos 21 anos seguintes à publicação do original.

— Nos primeiros 25 anos do projeto, fizemos um trabalho de formiguinha, tanto trancados aqui dentro como correndo todo o território brasileiro, além de mais de 20 países das três Américas, da Europa, do Oriente Próximo, visitando obras e documentos — lembra João Candido, de 86 anos. — Mais de 95 por cento das obras do meu pai estão em coleções particulares. Então, sem esse trabalho de catalogação e divulgação, o nosso maior pintor continuaria invisível, como o Callado escreveu no seu texto (de 1977). Agora queremos dar sequência com o sexto volume, com os mais de 200 trabalhos a que chegamos nos últimos 21 anos.

O primeiro resultado da pesquisa veio em 1997, quando foi montada uma grande retrospectiva no Masp, com 208 trabalhos. No centenário do pintor, em 2003, foi lançada uma cronobiografia ilustrada (“O lavrador de quadros”), antes do catálogo, no ano seguinte. O herdeiro ressalta que a pesquisa também contribuiu para outro ponto importante na preservação da obra, o combate às falsificações.

— Nesses 46 anos temos lutado contra falsários, até hoje continuam aparecendo. Já fomos com a polícia em apartamento no Vidigal que guardava falsificações, já teve uma senhora no Uruguai que queria autenticar um monte de obras falsas. Ela dizia que meu pai deixou uma coleção quando esteve por lá, em 1948, tivemos que envolver o Itamaraty — conta João Candido. — A primeira coisa que olhamos numa obra nova são as mãos e os pés, ele tinha muito cuidado para fazer. Além desse método mais subjetivo, que passa pelo olhar do especialista, temos as análises análises físico-químicas, em que é testado o pigmento, o suporte. Com o nosso banco de dados, conseguimos identificar falsificações comparando as pinceladas.

Mostra imersiva

Entre os próximos projetos envolvendo o legado do modernista, está uma grande exposição no Museu Nacional da China, em Pequim, como parte da programação do Ano Cultural Brasil-China. em 2026. A ideia inicial era levar os painéis “Guerra e paz”, pintados entre 1952 e 1956 para a sede da ONU, em Nova York, mas a nova configuração é de uma mostra imersiva nos moldes de “Portinari para todos”, montada em 2022 no MIS Experience, em São Paulo, junto a trabalhos originais, incluindo 20 estudos para os painéis. No entanto, antes de ocupar por quatro meses o museu chinês, um dos maiores do mundo, a instituição busca o patrocínio de empresas, estatais ou privadas, para sua própria sustentabilidade. Ainda sem captar para o plano bianual de R$ 6 milhões, via Lei Rouanet, João Candido diz temer pela continuiade das ações do projeto.

— Nossos custos mensais variam entre R$ 120 mil a R$ 150 mil, e só os licenciamentos não cobrem as despesas. Não pagamos pelo espaço da sede e nossa equipe é bem pequena. Mas precisamos de parceiros que nos permitam planejar a longo prazo — comenta o fundador e diretor-geral do Projeto. — Já estivemos assim anteriormente, a ponto de quase jogar a toalha, mas conseguimos apoiadores que entenderam o que Portinari representa para a cultura, dentro e fora do Brasil. Temos esperança que vá acontecer novamente.

Publicado originalmente no O Globo.

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