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Creuza Oliveira recebe título de Doutor Honoris Causa pela Ufba

Creuza Oliveira recebe título de Doutor Honoris Causa pela Ufba

Creuza é a primeira trabalhadora doméstica a receber título de doutora honoris causa no Brasil

A presidente de honra da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza Oliveira, de 65 anos, recebeu o Título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (Ufba) nesta sexta-feira, 24. A cerimônia para a entrega da honraria foi realizada na Reitoria da Ufba, em Salvador.

O grupo que preparou o memorial sobre Creuza Oliveira para a análise da concessão do Título foi coordenado pela professora Elisabete Pinto, do Instituto de Psicologia (IPS) da Ufba. Creuza Oliveira é a primeira liderança sindical da categoria das trabalhadoras domésticas a receber essa homenagem na história do Brasil.

Em discurso feito após receber o Título de Doutora Honoris Causa, Creuza, que também é secretária de Formação Sindical e de Estudos do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia (Sindoméstico-BA), lembrou da trajetória de luta e dos desafios de representar toda uma classe trabalhadora.

“Quando a gente começou o movimento, era na base datilografia, não existia computador. Quando alguém não sabia datilografar rápido, a gente falava que estava ‘catando milho’. É importante a gente não esquecer da nossa caminhada, de quem nos deu a mão. E até daqueles que nos trataram com indiferença. Você pode estar na linha de frente, mas existem outras pessoas que estão apoiando, dando incentivo, que estimula toda uma luta”, disse a presidente.

Ela ainda lembrou da trajetória no Movimento Negro Unificado, além do aprendizado gerado pela troca de conhecimento com colegas de sindicato de de academia. Aprendizado que foi essencial para a percepção dos impactos sociais causados pelo racismo presente em diferentes esferas sociais.

“Na questão racial, o Movimento me deu régua e compasso. Eu não tinha  consciência racial. Usava um lenço o tempo todo, só para não mostrar o cabelo, quando ele não era alisado na base do ferro. Tinha vergonha do meu cabelo. Quando comecei a participar do Movimento Negro, junto com o grupo de domésticas, observei falas sobre a questão racial, sobre o motivo da população negra ocupar sempre os piores empregos, os piores lugares. E comecei a perceber as mulheres que foram referência para mim, aquele cabelo crespo, black, que coisa linda. Quando elas levantavam os braços, que não estavam depilados, eu dizia: ‘que coisa diferente’ [risos]. Mas sabia que tudo aquilo tinha relação comigo”, acrescentou Creuza Oliveira.

Luta

Ainda em discurso, Creuza lembrou que passou a fazer parte do grupo de doméstica na década de 80, em reuniões que discutiam os direitos da classe. Em 1986, ela foi uma das fundadoras da Associação das Empregadas Domésticas da Bahia. No entanto, o reconhecimento enquanto categoria para as mulheres só ocorreu em 1988, com a promulgação da Constituição Federal. Com o novo cenário, quatro depois, ela foi a primeira presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia.

Ela ainda destacou momentos históricos da luta sindical, a exemplo da idealização do Conjunto Habitacional 27 de abril, dado em homenagem ao Dia Nacional das Domésticas. Os 80 prédios do espaço, que foram construídos no Doron, em Salvador, receberam nomes de mulheres e trabalhadoras domésticas.

Creuza Oliveira ainda agradeceu o apoio recebido por colegas de sindicatos, academias e da política, em especial para a aprovação da chamada PEC das Domésticas, que regulamentou o direito das trabalhadoras e trabalhadores domésticos. A PEC completa dez anos em 2023.

Premiações 

Creuza Oliveira recebeu, recentemente, o título de comendadora da Ordem Dois de Julho – Libertadores da Bahia. Além disso, a sindicalista recebeu o Prêmio Revista Cláudia, “Mulheres que fazem a diferença”, em 2003. E o Prêmio Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, em 2003 e em 2011, pela luta contra o trabalho infantil e por igualdade racial. E em 2005 a Ordem do Mérito do Trabalho no Grau de Cavaleira, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi indicada para o Prêmio 1.000 Mulheres para o Nobel da Paz em 2005; recebeu ainda o Troféu Raça Negra da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, no ano de 2013. E a homenagem “Mulheres Guerreiras”, da Previdência Social. E no Senado Federal o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, em 2015, dentre outras diferentes honrarias.

Publicado originalmente no A tarde.

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