Por Fernando Molica
Na sentença de março de 2016, em que condenou o empreiteiro Marcelo Odebrecht, o então juiz Sérgio Moro recomendou que o Grupo Odebrecht fechasse acordos de leniência e, para isso, adotasse medidas de “compliance” (adaptação a normas de integridade corporativa) que fazem parte do foco de seu trabalho na consultoria Alvarez & Marsal, empresa na qual acaba de ingressar na condição de sócio-diretor.
Na sentença, Moro citou, entre as medidas que deveriam ser praticadas pela Odebrecht para “recuperar a sua reputação”, a adoção “de sistemas internos mais rigorosos de compliance”.
Sugeriu também que o grupo tomasse a iniciativa de “assumir a responsabilidade por suas faltas pretéritas”. “É pior para a reputação da empresa tentar encobrir a sua responsabilidade do que assumi -la”, frisou o juiz.
Moro acrescentou: “A admissão da responsabilidade não elimina o malfeito, mas é a forma decente de superá- lo, máxime por parte de uma grande empresa. A iniciativa depende muito mais da Grupo Odebrecht do que do Poder Público.”
Em nota que trata da contratação de Moro, a A&M afirmou que o ex-juiz irá trabalhar na área de Disputas e Investigações e que o foco de seu trabalho será “ajudar empresas clientes no desenvolvimento de políticas antifraude e corrupção, governanças de integridade e conformidade e políticas de compliance.”
Procurada pela CNN, a A&M afirmou que não foi contratada pela Odebrecht para prestar serviços na área de compliance, e que o grupo é cliente da unidade de negócios dedicada à administração judicial.
Disse que ter sido nomeada pela Justiça para “acompanhar, fiscalizar e zelar pela correta condução do processo de recuperação judicial, que é liderado pela companhia em recuperação judicial e seus assessores.”
A empresa também afirmou que, até por questões contratuais, Moro não prestará qualquer serviço para a Odebrecht ou para outras empresas envolvidas na Operação Lava Jato.
A A&M ressaltou que a administração judicial é uma área diversa da de Disputas e Investigações, onde Moro atuará.
Não descartou, porém, a possibilidade de a Odebrecht, um dia, “demandar o serviço de complicance, ou qualquer outro que seja de desenvolvimento da área de Disputas e Investigações”.
Mas ressaltou que esta eventual prestação de serviços “não terá qualquer envolvimento do Moro” já que isso é proibido pela cláusula contratual que cita conflito de interesses.
“Moro não atuará em projetos de clientes que tenham tido envolvimento com a Lava Jato”, completou.
Artigo publicado originalmente na CNN Brasil.
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