Sempre admirei as obras de Cândido Portinari, estudei-o como um grande artista do movimento modernista, porém sem conhecer a sua humanidade.
Quando me refiro a humanidade é para destacar o sentido do respeito pelo outro, amor por seu povo, a sua luta pelos direitos humanos. Meu conhecimento era acadêmico, focado na poética de um movimento artístico.
Qual minha surpresa foi conhecê-lo na sua intimidade, viver seus momentos, chegar perto do seu coração sensível, pelos relatos de seu filho João Cândido Portinari.
Sem pudores digo que me sinto já da família depois que assisti João Cândido falar dele num encontro online com a turma dos Estados Gerais da Cultura, por coincidência no dia dos pais. Um bate-papo que recomendo porque nos faz entrar em outra dimensão da matéria, aquela, na qual a arte tem o poder nos fazer vibrar nas esferas mais altas do universo e transformar os sentimentos.
Me emocionou saber que Portinari foi um menino simples do interior de São Paulo, que jamais esqueceu suas origens.Um cidadão brasileiro perseguido pelo poder, militante político, comunista, aquele que sempre denunciou a desigualdade, a pobreza, a miséria social, assim como mostrou a alma singela de nosso povo.
Portinari viu o perdão no olho do mendigo. Portinari viu o que povo brasileiro não podia ver, o que estava escondido e mostrou para nós em suas telas. Portinari ajudou o Brasil a ver o Brasil de verdade. Não aquele que tentava imitar a capital dos colonizadores. O que nós éramos, a beleza do que nós somos”, foi a emocionante definição do ator Eduardo Tornaghi, na Pensata dirigida ao encontro.
Todas as obras de Portinari estão disponibilizadas didaticamente no Mais emocionante foi saber do importante trabalho realizado pelo filho ao realizar um levantamento das obras do pai – um total de cinco mil telas e 30 mil documentos – e a partir desse conteúdo criar o Projeto Portinari para crianças, jovens e adolescentes.
Mais enlevada fiquei quando João Candido compartilhou a emoção que sentiu ao ouvir a fala de Lula, então presidente, na ONU e referindo-se a obra. A única referência feita por um presidente brasileiro em 49 anos de existência da obra. “Esses painéis nessa época de pandemia nunca foram tão atuais”.
Baile na Roça foi o título escolhido por Portinari para retratar seu país. Uma de suas primeiras telas. Quem pousou para ele foram os próprios pais, o sanfoneiro também foi identificado. Na composição ele pinta uma típica festa popular de sua cidade natal no interior de São Paulo, Brodowski
O menino e pião é de uma beleza pueril. A criança sempre foi tema para Portinari, em seus folguedos e brincadeiras. Essa tela é fenomenal ao retratar a infância num chapéu de soldado feito em dobradura de papel e sua atenção a um pião, um brinquedo popular na infância de antigamente.
A obra “Os Retirantes” produzida em 1944 retrata uma família que precisa abandonar sua terra para fugir da miséria e da fome. Os tons escuros e as figuras fantasmagóricas revelam uma situação desumana que infelizmente ainda é vivenciada por muitos
Guerra e Paz traz uma grande mensagem ética e humanista. Dois painéis com 14 metros de altura e 10 metros de comprimento, que o governo encomendou para presentear a ONU em 1957. O tema do primeiro painel é a guerra, mas em vez de cenas de combate o artista optou por retratar o luto e o sofrimento da população civil. O segundo mural é dedicado à paz, simbolizada por danças e brincadeiras de crianças.
Segundo João Cândido, a previsão é de levar em janeiro de 2022, Guerra e Paz para uma mostra pública em Roma e em Pequim.
Publicado originalmente no Pan Horam Arte.
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