Muitos falam de seus professores, refletem sobre sua formação, estimulam gerações a seguir aprendendo com seus mestres desde os primeiros e incertos passos na escrita e na leitura até os estudos mais profundos e densos da pós-graduação. Neste dia em que se celebram as funções de professor, posso também recordar daqueles que me fizeram mergulhar nesse campo.
Aprendi a ler com minha mãe, que era professora de pedagogia; com ela aprendi também a escrever meu nome. Como era difícil conjugar os dedos e o pensamento. A leitura me despertou para a vida. Pude identificar as placas das ruas, os anúncios, os nomes, os números.
Era outro mundo. Neste outro mundo tenho que recordar de uma professora na escola pública. Uma professora notável, Dona Ana Ferreira, uma humanista que acreditava em um mundo melhor, que incentivava todos seus alunos a excluírem de suas mentes os preconceitos e as discriminações, que mostrava como, realmente, se constroem os palácios, que a humanidade caminha sobre as solas gastas dos sapatos, que nos conduzia à leitura crítica, que sedimentava o amor ao próximo e que estava sempre disposta ao perdão em lugar do castigo.
Mais tarde, já na universidade, justamente por causa dessa formação básica passei a me interessar pelo direito penal, inicialmente fascinado pelas soluções menos rigorosas na questão das respostas às infrações e, depois, por influência de um grande jurista, precocemente falecido, Alcides Munhoz Netto, imergido na dogmática. Dedicar-me à dogmática não foi difícil, até porque tive também uma formação positivista, herdada de meu pai. A questão que busquei foi, porém, a de fazer uma dogmática crítica e não positivista.
Da formação positivista não me separei de uma proposição: a necessidade da prova da causalidade. A dogmática me fez seguir uma carreira acadêmica, que só mesclei com as atividades profissionais na advocacia, na defensoria e depois no Ministério Público, sinceramente, para poder, com os soldos, comprar mais livros e livros.
Tive professores de todas as ideologias. Isso não me importava. Aprendi com meu mestre alemão Hans-Heinrich Jescheck, com o qual convivi por longo tempo, que o objetivo da dogmática não é fazer proselitismo político, mas sim buscar os instrumentos para evitar que o poder de punir se torne cada vez mais autoritário. Essa mesma lição aprendi com Winfried Hassemer e Dirk Fabricius.
Não aprendi apenas com os mestres tradicionais, aprendi e aprendo diariamente também com os amigos, amigos de longa data, como Juarez Cirino dos Santos, Jacinto Coutinho, Rubens Casara, Geraldo Prado, Heitor Costa Júnior, Nilo Batista, Eugenio Raúl Zaffaroni, Marcelo Neves, Lenio Streck, e com os amigos mais jovens, alguns que conheci nos exames e concursos, e outros que foram meus alunos e orientandos, como Alexandre Mallet, Antonio Martins, Ademar Borges, Tiago Joffily, Salo de Carvalho, Maurício Stegmann Dieter, Jacson Zílio, Leonardo Yarochewsky, Leonardo de Paula, Antonio Pedro Melchior, Fabio Bozza, Flavio Cruz, Ricardo Krug, Diogo Tristão, Rômulo Moreira, Wellington Cesar Lima e Silva, Pedro Serrano, Reinaldo Santos de Almeida Júnior, Marco Aurélio Carvalho.
Continuo a apreender com as amigas Carol Proner, Marcia Tiburi, Fernanda Tórtima, Vera Regina Pereira de Andrade, Ana Elisa Bechara, Helena Regina Lobo da Costa, Marília Guimarães, Marina Coelho, Marina Cerqueira, Maria Goretti Nagime Barros Costa, Gisele Citadino, Mariateresa Veltri, Gabriela Araújo, Claudia Roberta Sampaio, Eliana Khader, Juliana Bierrenbach, Bartira Macedo, Fernanda Martins . Esses nomes são aqueles que me seguem mais de perto. Há muitos outros que me influenciam e cuja lista seria imensa, uma vez que fortaleçam a crença de que um dia todos os seres humanos se despirão de sua pretensa superioridade e viverão em paz.
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