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Procurador da Lava Jato não se sentia ‘confortável’ em defender amigo de Moro acusado de caixa dois para operação, revelam diálogos

Procurador da Lava Jato não se sentia ‘confortável’ em defender amigo de Moro acusado de caixa dois para operação, revelam diálogos

Por Mônica Bergamo

Padrinho de casamento de ex-juiz, Carlos Zuculotto foi citado por ex-advogado da Odebrecht

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou a colegas do Ministério Público Federal, em 2017, que não se sentia “confortável” em endossar “totalmente” a defesa que Sergio Moro fazia de um grande amigo dele, Carlos Zucolotto Junior.

Advogado trabalhista, ex-sócio de Rosangela, mulher de Moro, e padrinho de casamento deles, Zucolotto estava sendo acusado na época de intermediar negociações paralelas na Operação Lava Jato em troca de pagamentos por meio de caixa dois.

A denúncia foi feita pelo advogado Rodrigo Tacla Duran, investigado pela força-tarefa da Lava Jato, e publicada no dia 27 de agosto de 2017 pela Folha.

Segundo Tacla Duran, advogado que trabalhou para a empreiteira Odebrecht, as conversas entre ele e Zucolotto envolveriam abrandamento de pena e diminuição da multa que deveria ser paga em um acordo de delação premiada.

O dinheiro do caixa dois, segundo ainda Tacla Duran, serviria para Zucolotto “cuidar” das pessoas que o ajudariam na negociação, que seria feita com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

O ex-colaborador da Odebrecht afirmava ter em seus arquivos correspondências que comprovariam a acusação.

Embora não fosse acusado de nada, nem citado na denúncia, Moro tomou a frente da defesa de Zucolotto e reagiu de forma enfática.

Por meio de nota, também publicada na Folha, o então juiz afirmou: “O advogado Carlos Zucolotto Jr. é meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me”.

Os procuradores passaram então a discutir entre si sobre a conveniência de eles se posicionarem em relação à denúncia.

Os diálogos foram apresentados ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta (3) pela defesa de Lula. Eles integram arquivo apreendido pela Polícia Federal com hackers acusados de invadir os celulares de autoridades de Brasília. O STF deu a Lula amplo acesso às conversas.

O material que está no STF não identifica claramente os remetentes de todas as mensagens. Mas a Folha pôde identificar Carlos Fernando como o autor dos comentários sobre Zucolotto após compará-lo com os arquivos recebidos pelo site The Intercept Brasil em 2019 e compartilhados com a Folha e outros veículos em 2019.

Nas conversas agora enviadas ao Supremo, Carlos Fernando mostra aos colegas mensagem que enviara a Moro sobre a reportagem com as acusações contra Zucolotto publicada pela Folha.

Ele deixa claro ao juiz que não queria divulgar nota alguma sobre o caso _a não ser que Moro pedisse.

“A princípio não íamos fazer nada, pois uma nota acaba gerando uma segunda onda de notícia. Que a [colunista da Folha] Mônica Bergamo ia publicar, não tinha dúvida. Da maneira como publicou fica claro que não foi adianta na tentativa de investigar os fatos. Estamos monitorando as repercussões. Se a reportagem reverberar em outros órgãos de imprensa sérios, é o caso de posicionamento. Mas se você quiser que façamos nota, nós faremos hoje mesmo”.

Em seguida, diz aos colegas: “Talvez seja o caso de fazermos uma nota, apesar de objetivamente não ser o caso, somente para dar suporte ao Moro”.

E então ele conclui: “Prefiro notas curtas, pois não me sinto confortável em endossar totalmente o Moro em relação ao Zucolotto”.

força-tarefa de Curitiba acabou divulgando uma nota com onze parágrafos em que dizia “repudiar” as acusações de Tacla Duran contra o amigo de Moro.

Publicado originalmente na Folha de S.Paulo.

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