Por Mariana Payno
O advogado Diogo Sant´ana transitou do setor público ao privado, sempre em busca de ações para fazer do Brasil um país melhor
Otimismo e vontade de fazer do Brasil um país melhor. Essas são as palavras de ordem do advogado Diogo de Sant’Ana, e foi munido desse espírito que ele construiu uma carreira transformadora, começando pela administração pública antes de entrar de vez na advocacia. A escolha pelo direito, aliás, tudo tem a ver com essa sede de mudança (para o melhor). “Eu me convenci de que era o curso mais propício para isso”, conta.”O direito é uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento econômico e social.”
Do bairro do Socorro, na periferia da zona sul de São Paulo, ele chegou primeiro à Sé, onde frequentou a Faculdade de Direito da USP; depois, a Brasília, onde atuou junto ao setor público por quase uma década. Passou uma temporada no Senado e oito anos trabalhando junto à Presidência da República, em funções diversas: no gabinete do ex-presidente Lula, na Secretaria Geral da Presidência e na Casa Civil. Nessa época, rodou o Brasil de norte a sul, antes de ganhar o mundo com um mestrado em administração pública pela Universidade de Harvard e um posto de visiting scholar da Universidade de Columbia no currículo.
Enquanto trabalhava com o governo, Sant’Ana protagonizou momentos decisivos, como a crise econômica de 2008, a elaboração do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e a implementação de políticas de reciclagem e desenvolvimento sustentável. Acumulada toda essa bagagem, decidiu migrar para o setor privado, em que atua hoje, como um advogado que conecta os dois mundos: especialista em direito público, terceiro setor e negócios de impacto, orienta os clientes em temas regulatórios.
Durante esse caminho, Sant’Ana foi movido pela certeza de que as coisas (e, principalmente, o Brasil) podem ser melhores. “Tenho isso muito dentro de mim, e isso veio da minha trajetória na periferia”, diz. “Minha família tem origem muito simples, e eu não tive direito a não ser otimista. Tive que fazer as coisas acontecerem.”
G Quais são os principais desafios de trabalhar com o setor público no Brasil?
D.S. O desafio mais especial é estar muito aberto ao diálogo e ao entendimento. Sem isso, é difícil construir algo bom, duradouro e consistente. Conheci muita gente boa no governo, mas com opiniões muito cristalizadas sobre determinados assuntos e que, por isso, não conseguia mobilizar o entorno. Pela minha experiência, as pessoas mais abertas ao dialogo foram os gestores que conseguiram os melhores resultados em termos de construção das políticas públicas.
G Quais lições você tirou desse período?
D.S. O que é muito marcante para quem teve a oportunidade de conhecer o país como eu conheci é que o Brasil é um país muito desigual. Radicalmente, profundamente, dolorosamente desigual, do ponto de vista econômico, do grau de desenvolvimento, das oportunidades, das formas como as pessoas vivem. Ao mesmo tempo, é um país que tem muita coisa por fazer, tem enormes potencialidades e pode ser muito melhor do que é econômica e socialmente. Olhar um país tão desigual e tentar fazer com que ele seja menos assim é uma obrigação ética para quem viveu as coisas que eu vivi. E isso moveu meu espírito para construir coisas novas também na advocacia.
G E quando o trabalho é no setor privado, os desafios mudam?
D.S. Trabalhar no setor privado oferece um conjunto de potencialidades muito grandes para ajudar a construir um país melhor. O que é muito desafiador é ter um foco. Quando você está no setor privado você é um agente entre milhares, e as coisas geralmente não chegam para você. Você tem que construir as coisas, com o seu esforço, relações e recursos disponíveis. No governo, as coisas chegam. Então, as habilidades necessárias, em relacionamento e comunicação, são diferentes.
G É difícil mudar o rumo da carreira do setor público para o privado?
D.S. Fazer transição de carreira sempre é uma coisa difícil. Mas eu queria muito, sempre tive muita vontade de advogar e queria muito construir uma carreira na advocacia, mas não qualquer carreira: queria fazer parte de um escritório no qual eu atuasse em temas, na defesa e na assistência jurídica, que pudessem contribuir significativamente para o desenvolvimento do país. Meu grande sonho é ver o Brasil como um país desenvolvido, e todas as minhas escolhas profissionais sempre foram motivadas por isso.
G Você também é professor. Qual é a importância de uma boa formação acadêmica para atuar no direito e na administração pública?
D.S. Ter uma boa formação é importante demais para tudo que alguém for querer fazer. E, especialmente na minha área, foi essencial. Pode parecer um chavão, mas a minha sensação é a de que quanto mais você estuda, mais você percebe que seu conhecimento é limitado e que você, de fato, precisa estudar mais. Mas se você tem uma trajetória acadêmica sólida, você acaba aprendendo a aprender. E aprendendo mais rápido você se adapta mais rápido a mudanças de circunstância que certamente vão aparecer na sua vida profissional.
G Para atuar na sua área, o que um bom profissional precisa saber?
D.S. Um bom profissional na área do direito é, primeiro, alguém que tenha uma formação humana bastante sólida, porque o direito lida essencialmente com conflitos humanos. Saber ouvir e saber dialogar também são coisas fundamentais. Agora, um advogado que pensa no desenvolvimento do Brasil precisa conhecer o país, entender as diferentes realidades para ter uma visão mais sólida e mais crítica da profissão. Deve entender também que o direito é uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento econômico e social.
G Você teve um mentor?
D.S. Tive muitos, sempre fui muito ajudado e sempre gostei muito de conversar com as pessoas. Fui orientando do professor Eros Grau, professor de Direito Econômico da USP. Ele é uma pessoa que tem muita influência sobre a forma como eu penso o direito, porque ele sempre me ensinou a tentar enxergar o que está por trás da norma e, ao mesmo tempo, valorizar muito a função específica do direito. Além disso, eu trabalhei com pessoas que têm um sentido de justiça social muito aguçado, e isso ficou muito marcado na minha trajetória. As coisas que eu tento fazer vêm muito desse sentido de justiça, e certamente essas pessoas me influenciaram muito.
G Você vive para trabalhar?
D.S. Eu vivo pra trabalhar. Acho que é importante contar esse segredo para as pessoas: eu nunca vi, na minha trajetória profissional, uma pessoa conseguir fazer algo de extraordinário sem se dedicar muito a isso, sem se desdobrar, sem colocar uma carga de trabalho muito forte mesmo. Se você quer fazer algo realmente importante e relevante, pode ter certeza de que vai ter que trabalhar muito para que essa coisa aconteça. Dificilmente vai acontecer se você não pisar no acelerador.
Entrevista publicada originalmente na Revista Gama.
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