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Emílio Odebrecht diz em livro que delações da Lava Jato foram feitas sob coação

Emílio Odebrecht diz em livro que delações da Lava Jato foram feitas sob coação

Por Flávio Ferreira

Empresário nega corrupção e diz que repasses a políticos eram caixa 2 eleitoral

O empresário Emílio Odebrecht afirma em livro lançado neste mês que as delações premiadas dele e de outros executivos de empreiteiras foram obtidas sob coação na Operação Lava Jato.

Na obra, Emílio sustenta que os repasses a políticos feitos pela empresa que levava o nome de sua família (agora chama-se Novonor) eram recursos de caixa dois eleitoral, entre outras teses de defesa jurídica apresentadas.

O livro intitulado “Uma Guerra contra o Brasil: Como a Lava Jato Agrediu a Soberania Nacional, Enfraqueceu a Indústria Pesada Brasileira e Tentou Destruir o Grupo Odebrecht”, escrito em primeira pessoa, também traz as posições dele sobre temas econômicos.

Boa parte da obra é dedicada a relatos sobre a história da família do autor e de suas companhias, nos quais faz uma louvação aos feitos obtidos pelo grupo empresarial.

O autor abre a obra descrevendo o dia em junho de 2015 em que a Odebrecht e outras empreiteiras foram alvo da 14ª fase da Lava Jato, e seu filho Marcelo, que presidia a companhia, foi preso.

Emílio relata então a batalha jurídica que enfrentou e diz que uma “fábrica de delações” foi montada pelo então juiz Sergio Moro (eleito senador em 2022) e pela força-tarefa de procuradores do Ministério Público Federal em Curitiba, à época comandada por Deltan Dallagnol (atual deputado federal).

Nas discussões para o fechamento dos acordos de delação, aqueles que não tivessem suas declarações consideradas importantes poderiam acabar sendo alvo de prisões e processos, segundo o empresário.

Ele firmou o acordo de colaboração em 2016. Chegou a ser condenado em sentença anulada posteriormente, mas não foi preso em decorrência da operação nem antes nem após a delação.

“O que mais atemorizava cada um de nós era ficar fora do acordo final, porque nossa vida se transformaria em um inferno. Era o que os promotores prometiam”, escreve.

“Nesse ambiente, ameaçados, pressionados, submetidos a quase insuportável sofrimento físico e mental, poucos conseguiram resistir a determinações como essa: ‘Você está aqui voluntariamente e quero que fale de fulano e sicrano’. Os procuradores apontavam o dedo e não tinham limites.”

De acordo com o autor, essa conduta dos procuradores levou parte dos delatores a admitir a prática de crimes de corrupção em relação a atos que, na verdade, configuraram doações a políticos ou partidos.

“Como jamais fizemos doações para partidos ou candidatos barganhando contrapartidas, eles próprios [procuradores] encontraram a solução: ‘Você, colaborador, assume que a contrapartida é que, no futuro, o candidato pode se tornar um político importante, com poder, e você terá influência sobre ele’. E foi desse modo que em centenas de relatos este texto se repetiu”, afirma.

A obra traz a explicação de Emílio sobre a estrutura montada pela empreiteira para fazer repasses a políticos, que foi chamada de “departamento da propina” pelos procuradores.

“O que existiu foi um sistema de geração de recursos não contabilizados, o popular ‘caixa dois'”, afirma.

O empresário admite que a prática é ilegal, mas diz que ela é habitual no mundo empresarial.

“Não sejamos hipócritas: desde a invenção do capitalismo, é comum empresa média ou grande manter pelo menos 1% de seu faturamento ali alocado. Não é certo, mas assim é, e serve para atender contingências inesperadas.”

O autor aponta então as finalidades que a estrutura teve na Odebrecht: pagamentos em espécie a fornecedores, especialmente em zonas de conflito; repasses incomuns, como resgates de funcionários em casos de sequestros (diz que nos últimos 30 anos ocorreram 11 situações como essa, em “países de alto risco político e social”); remuneração de executivos por desempenho ou atuação em circunstâncias especiais e contribuições para campanhas políticas.

Emílio, 78, também aborda o fato de a Odebrecht ter bancado a reforma no sítio em Atibaia (SP) que era frequentado pelo presidente Lula (PT), mas não revela o motivo pelo qual autorizou as obras.

O empresário repete depoimentos dados às autoridades ao afirmar que o pedido para que a empreiteira fizesse a reforma no sítio partiu da então primeira-dama, Marisa Letícia, e nega que tenha praticado crime no episódio.

“Lula deixaria a Presidência no final daquele ano [2010] e meu gesto não estava vinculado a qualquer agradecimento ou expectativa de retribuição futura. Dali a alguns dias o governo seria outro”, escreve.

Na parte final do livro, o autor defende as teses de que “a Lava Jato quebrou a economia brasileira” e que tal situação contou com a orientação de autoridades dos Estados Unidos, com a finalidade de prejudicar empresas brasileiras que ofereciam concorrência a companhias americanas à época.

Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato sempre negaram ter conduzido de forma ilícita as delações, processos e investigações da Lava Jato, mesmo após o STF (Supremo Tribunal Federal) ter anulado parte das ações ao julgar que o ex-juiz atuou com parcialidade nas causas.

Publicado originalmente na Folha de S.Paulo.

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