Reunião ministerial divulgada mostra perfil rasteiro de todos que compõem esse governo
A reunião presidencial, tantos já disseram, tantos já falaram, me deu a impressão de ser um filme ou uma peça de teatro, de roteiro horrível, de atores canastrões e de um protagonista que estaria a fazer para sempre na carreira de ator o mesmo papel: um déspota, bronco, paranóico e de baixíssima amplitude vernacular. A seu lado, dois generais, dois. Na falta de um, havia três, porque ao fundo sentava-se um terceiro general.
Dos celerados reunidos, cada qual puxou para si um fato típico penal para chamar de seu. Sinistro, o cara da Educação deixa clara sua missão de vida: destruir Brasília. Destruir, dizem os léxicos é “eliminar”, “colocar no chão”. Ainda que tenha falado em sentido figurado, nunca se sabe, destruir Brasília é, pelo menos, eliminar toda a Administração Pública, rapar com tudo o que lá existe, começando pelo Supremo, a quem deseja ver na Cadeia. Convenhamos, é uma ambição e tanto. Destruir, por exemplo, todas as embaixadas, todos os comandos militares, todos os órgãos federais, tudo. A seguir, sem que se esperasse, ele afirma odiar expressões como “povos indígenas”, por exemplo, pela singela razão de haver um único povo, o “povo brasileiro”, ora, ora. Ele detesta essa expressão. Detesta os povos indígenas, já havíamos percebido.
“Parecia que era o bastante. Estava ali demonstrado o nível rasteiro do ministério, porque em nenhum momento ele foi aparteado, contido, calado, tomado um tapa na boca, houvesse sido derrubado da cadeira, nada. Falou tranquilamente, entre amigos.”
Falou e disse, como diríamos no passado. Mas, não. Diante dele, impávido e imóvel, fazendo cara de paisagem, o Homem Aranha da corrupção, Sérgio Moro, que, naqueles dias, tinha certa sua indicação ao Supremo (onde estão aqueles que seu colega queria prender), nada disse. Ouviu calado e imóvel. Ele foi juiz 22 anos, fez e aconteceu no Supremo, sambou e cantou no Supremo, mas na hora agá, calou-se. Deixou que o parceiro de Ministério xingasse à vontade, quietão, na dele. Talvez estivesse meio apalermado com a truculência, contudo, ficou estranho não defender os ministros que tão bem o acolheram. Ingrato, para dizer o mínimo.
Weintraub abriu as portas do inferno e de lá soltou, elegante e vestindo um terno muito bem cortado, aprumado, o cara do Meio-Ambiente. A ele caberia, a missão impossível, que era a de superar seu antecessor genocida e devastador. Como aquele amigo que dá uma dica secreta na roda de chopp, ele sussurra, com uma ideia fenomenal: eles deveriam aproveitar a “calmaria”, provocada pela imprensa que só tem olhos para o coronavírus para aprovar toda a pauta de devastação ambiental e para armar a AGU para as trombadas judiciais que virão.
“Um gênio do crime ambiental, que foi sincero, frio, aproveitando-se da maior tragédia sanitária mundial, já naquele dia, com a morte de milhares de brasileiros.”
Entre solidarizar-se com as famílias, preferiu uma gambiarra para devastar o meio ambiente, que tem proteção constitucional. Crime. O dado mais impressionante é que ele disse tudo sem alterar a voz, sem desalinhar o punho do paletó. Frio, calculista.
Tomem lá hemorróidas, tomem lá governador bosta e governador estrume, impressionante a fixação anal de Sua Excelência, de obsessiva preocupação esfincteriana. Uma ministra, pastora de Jesus, a quem viu no pé de uma goiabeira, preocupadíssima com os direitos humanos, disse que prenderá governadores e prefeitos e que sabe, por saber, que esse vírus não é tudo isso.
E gritos e interfiro mesmo, troco quem eu quiser, sou homem pra isso, chega o mais soturno. O mais demolidor. Aquele que não gosta de povo nem qualquer coisa que o lembre da existência desses tristes de nós seres humanos. Ele tem um grande plano: fazer algo parecido, nos quartéis, com o que fez um alemão, Hjalmar Schacht, ninguém menos do que o ministro da economia do regime nazista, que, lá pelos anos 30, criou frentes de trabalho para os mais pobres na Alemanha, incluindo adolescentes, então na faixa de treze anos, submetidos a trabalhos pesados e a um processo de fanatização. Ele foi condenado em Nuremberg. Guedes o revisitou. Antes, foi um cara da Secretaria da Cultura. Desta feita, foi o Primeiro Ministro, o Posto Ipiranga. Nazista.
“Sim, no elenco, um genocida, um devastador ambiental, uma paranoica e um nazista, presididos pelo guardião de hemorroidas.”
Exceção feita a dois ou três minutos do cara da Saúde, que saiu antes de ter entrado, nenhuma palavra de solidariedade, de afeto, de acolhimento, de dor às famílias que perderam seus entes queridos, sem sequer poder enterrá-los dignamente. Nada. Em qualquer lugar do planeta, todos estariam desesperados, todos estariam indormidos, todos estariam atônitos.
Naquela reunião sinistra, naquela Ceia Bizarra, ninguém se manifestou pelos mortos.
Crimes de penca, à escolha do interlocutor. Se olhar mais de perto, sinto horrores a ela, a Lei de Segurança de Nacional, que prefiro, conscientemente esquecer. Prefiro leis ambientais, prefiro crimes de responsabilidades. É lapidar e histórica a intenção de Paulo Guedes de que “é preciso vender essa merda”. A merda é o Banco do Brasil, criado por D. João VI…
São nossos Ministros. A atuação do cara das relações exteriores foi cortada, porque possuía ofensas a países estrangeiros. Calculo o que ele, envolvido no clima de ternura da reunião, deve ter dito acerca de nossos parceiros econômicos.
Essa gente tropeça nas palavras, mas acerta nos alvos em que mira. Acerta nos índios, acerta nos negros, acerta no meio-ambiente, acerta nos adversários políticos, acerta nos vulneráveis, acerta no patrimônio brasileiro, acerta, enfim, em todos nós.
São snipers da miséria. O presidente e seus maldosos auxiliares sabem exatamente o que fazem. Não sabem conjugar os verbos, não sabem respeitar a dignidade humana, não se respeita minimamente a dor dos que perdem entes queridos nessa pandemia terrível.
São matadores, predadores vorazes. Gente da pior espécie.
Artigo publicado originalmente na Carta Capital.
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