Atual ministro não parece se dar conta da responsabilidade que tem sobre os ombros
O Ministério da Educação está em frangalhos. Um testemunho político de quem esteve por sete anos à frente da pasta talvez possa ser útil ao interesse público.
Antes de mim, o ministro Paulo Renato, do PSDB, havia ocupado o cargo de ministro da Educação pelos oito anos do governo FHC. Nossas divergências se tornaram conhecidas no debate público ao expressarmos, sempre respeitosamente, as nossas opiniões. Sobretudo quanto à educação superior e à educação profissional, as diferenças de ponto de vista eram bastante visíveis.
Entretanto, quanto à educação básica, apesar dos diferentes enfoques pedagógicos, eu fazia questão de reconhecer suas contribuições para o desenvolvimento da educação. Refiro-me, especificamente, ao antigo Fundef e ao Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), mas poderia citar outras ações de menor alcance.
Com mais certeza hoje, prefiro o Fundeb (que abrange toda educação básica) ao Fundef (restrito ao ensino fundamental) e o IDEB (por escola) ao Saeb (amostral), mas não seria intelectualmente honesto da minha parte desconhecer que aquilo que eu considero avanço só foi possível, nesses dois casos, pelos passos dados previamente pelo meu antecessor.
O próprio Paulo Renato também viria a reconhecer e apoiar o acerto das nossas iniciativas. Apenas a reforma do Enem, que promovi em 2009, continuou sendo alvo de crítica dos tucanos. Em entrevista ao Estadão (15/4/2009), Paulo Renato afirmou: “O Enem é uma conquista; acho que ele vai acabar; vão manter a grife, mas vão mudar o conteúdo?”.
Minha obsessão, contudo, era outra: acabar com o vestibular e promover uma revolução no acesso à universidade com o apoio do corpo técnico do Inep, um dos melhores da República —hoje desprestigiado.
Conto essas histórias para dizer que, apesar de pertencermos a partidos adversários, comungávamos um valor comum: educação é política de Estado, não de governo.
Disputávamos ideais, sempre colocando o interesse público acima das divergências que procurávamos superar. Passamos a nos respeitar e promovemos uma interlocução que, mediante contínua negociação, me permitiu aprovar ao longo daqueles longos anos vários projetos de interesse do MEC com suporte da oposição.
Sei que é caso raro na política. Mas o que está hoje acontecendo no MEC é algo que deveria inquietar a todos.
Mesmo para os muitos que têm Bolsonaro em baixíssima conta, a situação causa constrangimento e desalento.
O atual ministro não parece se dar conta da responsabilidade que tem sobre os ombros. Um homem sem visão, sem projeto, sem interlocutores, sem referências. Um nada.
Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo.
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