Por Tatiane de Assis
Portinari para Todos é o nome da nova mostra imersiva que será aberta neste sábado (5) no MIS
O MIS Experience, braço do Museu da Imagem e do Som (MIS) voltado para as experiências imersivas, inaugura neste sábado (5) Portinari para Todos. É uma homenagem ao artista paulista que viveu de 1903 a 1962 e se radicou no Rio.
Conhecido como um dos expoentes do muralismo no país, teve sua produção atrelada ao olhar para o povo brasileiro e uma relação estreita com o Estado Novo (1937-1945), de Getúlio Vargas. Entre suas pinturas mais famosas estão O Mestiço (1934) e a série Retirantes (1944-1945).
A exposição exibe a obra do artista a partir de videomapping, técnica de projeção de imagens em superfícies irregulares. A matéria prima são fotografias e vídeos de mais de 150 trabalhos do pintor, vide um autorretrato, datado de 1954, e as telas Chorinho (1942) e Retrato de Maria (1932).
O público também poderá “visitar” lugares onde Portinari tem obras instaladas, como a sede da ONU, em Nova York, onde está a pintura mural Guerra e Paz (1954), e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, em cujo altar fica o painel pintado São Francisco se Despojando das Vestes (1945).
Como se dará essa viagem? Numa espécie de “cidade”, com maquetes de objetos de até 2 metros de altura. A curadoria é assinada por Marcello Dantas, nome do eixo Rio-São Paulo com ampla experiência na articulação entre arte e tecnologia. “É como se o Portinari tivesse produzido uma obra nova. Com o sistema que criamos, que traz uma resolução e dimensões diferentes, um pequeno detalhe se transforma quase em uma pintura mural”, explica ele, que teve a seu dispor os 2 000 metros quadrados do galpão principal.
“A gente traz a produção a partir de recortes de sua trajetória, o que inclui o olhar para a infância, as plantações de café, a ideia de brasilidade. Também se pensa a figura da Maria, que era esposa dele, que é muito pouco falada”, afirma o curador.
Os amigos também aparecem, como o político Luís Carlos Prestes e o poeta Carlos Drummond de Andrade. “Eles trazem outra perspectiva de entendimento do trabalho de Portinari”, acrescenta. A dupla e outras pessoas do convívio do artista, retratadas em pintura por ele, tiveram essas imagens animadas e sonorizadas.
“Mas a voz não é falsa, usamos depoimentos reais tanto do escritor quanto do político. Parece deep fake, mas é deep real”, ressalva, bem-humorado, ao fazer menção ao recurso tecnológico amplamente usado na disseminação de informações falsas. Essa é a segunda mostra realizada no espaço. A primeira foi Leonardo Da Vinci — 500 Anos de Um Gênio, de novembro de 2019 a julho de 2021, pausada durante o período mais agudo da pandemia.
Levou mais de 500 000 visitantes ao centro cultural, na região da Água Branca. “Nossa expectativa é bater esse número”, disse, animado e em tom de desafio, Marcos Mendonça, diretor do complexo MIS, em entrevista coletiva.
MIS Experience. Rua Vladimir Herzog, 75, Água Branca, ☎ 3613-2044. → Ter. a sex. e dom., 10h/17h. Sáb. e feriados, 10h/18h. R$ 30,00 (qua. a sex.). R$ 45,00 (sáb., dom.; e fer.). Grátis às terças. Cliente Bradesco tem 50% de desconto na compra do ingresso com os cartões Bradesco pessoa física). Até 10/7. A partir de sáb. (5). portinariparatodos.com.br.
Olhos também do lado de fora
A exposição Portinari para Todos é acompanhada de uma repaginação na área externa do MIS Experience. Eduardo Kobra, que pintou uma releitura do Homem Vitruviano nos muros do endereço para a mostra sobre Da Vinci, fez um novo mural, com 38 metros de comprimento e 5 de altura.
A primeira metade do desenho é inspirada no painel Guerra e Paz. “Juntei crianças presentes no painel (original) com crianças que vivem hoje em Brodowski (onde Portinari nasceu)”, explica o artista.
A segunda parte mostra Portinari pintando o filho, João Cândido, que é retratado com a feição dos dias atuais. Do lado interno, o muro ganha mais plantas como costela-de-adão, filodendros, marantas e variedades de samambaias. “São 1 000 metros quadrados de jardins verticais”, afirma Bruno Watanabe, fundador do Grupo VG, responsável pelo paisagismo.
Publicado originalmente na Veja.
Deixe um comentário
Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *