Por Patrícia Pasquini
Roberto Stuckert trabalhou em 32 veículos de comunicação e foi fotógrafo de João Batista de Oliveira Figueiredo, o último presidente do período da ditadura militar
O repórter fotográfico Roberto Stuckert, conhecido como Stukão, tinha a fotografia no DNA, na alma e na família, que possui 33 fotógrafos —sendo que dois são seus filhos, Roberto e Ricardo Stuckert. A eles passou o amor pela sua arte da forma mais bonita.
“Um dos primeiros presentes que ganhei dele, ainda criança, foi uma máquina fotográfica. Ele me entregou e disse ‘Rico, aqui tem a minha vida e você vai aprender a olhar o mundo por este visor’. Depois, com a máquina na mão, ele falou que iria me levar ao laboratório de fotografia para aprender a revelar filmes. Quando entrei naquela sala toda escura e vi a imagem surgindo do filme, perguntei pra ele: ‘Pai, isso é mágica?’. Ele sorriu e disse: ‘Sim, é como se fosse’. Eu cresci acreditando nisso”, conta Ricardo.
Stukão era paraibano de João Pessoa. Também morou em Maceió e no Rio de Janeiro, mas escolheu Brasília para viver. Lá, estudou num colégio só para meninos e conheceu Adolfina Oliveira, que viria a ser sua esposa anos depois. Foram 58 anos de um casamento feliz.
Passou pelas revistas Cruzeiro e Manchete, e pelos jornais Folha e O Globo, além da agência France-Presse, entre outros. Stuckert esteve em três Copas do Mundo de futebol (1974, 1978 e 1994). Foi o gigante das lentes.
A passagem pela Folha ocorreu nos anos 1970. Na época, Roberto mantinha, na mesma rua do jornal, em Brasília, uma agência de fotografia chamada Stuckert Press.
Ele também foi o fotógrafo oficial de João Batista de Oliveira Figueiredo, o último presidente do período da ditadura militar. Seus filhos também foram fotógrafos de ex-presidentes: Ricardo, de Luiz Inácio Lula da Silva, e Roberto, de Dilma Rousseff, ambos do PT.
A última foto tirada pelo filho Ricardo mostra bem a leveza e o carisma com os quais levou a vida.
Roberto tinha um sorriso simpático, o olhar acolhedor e o mesmo encantamento que passava através do seu trabalho.
Os papéis de marido, pai e avô lhe renderam os melhores retratos. “Ele era extremamente amigo, carinhoso e nunca levantou a voz aos filhos. Era do diálogo. Ele aproveitou o tempo que ficava com a família. Seu carisma e as boas histórias atraíam a atenção dos netos. Foi um exemplo”, diz Ricardo.
Dias antes de morrer, Roberto disse que se partisse iria feliz por ter conseguido criar os filhos e ver os netos bem.
Ele morreu dia 23 de agosto, aos 78 anos, após parada cardíaca. Deixa a esposa, seis filhos e netos.
Publicado originalmente na Folha de S.Paulo.
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