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O Mundo Onírico

“Que nos ensine, pois, a ser pacientes a nossa provação, já que é desdita fatal dos namorados, como os sonhos, pensamentos, suspiros, dores, lágrimas, do pobre amor são companheiros certos” (Sonho de uma noite de Verão – W. Shakespeare)

E tudo chega ao fim, pois há uma dialética nos fenômenos da natureza e da vida humana, um conjunto de leis em que se admite que um pequeno vírus causar um estrago colossal, pois não importa o tamanho da arma, mas onde ela fere, e mata.

Nossa, a minha, não é poesia, na maioria da vezes é apenas um contínuo suceder de acontecimentos e de fatos francamente tristes, trágicos, de dores incomensuráveis, que, contraditoriamente, teimamos em ver prosa e luz, neles.

Essa e a torpe esperança que nos redime.

A literatura é único caminho possível de libertação do covid-19, como foi com a peste, no Decameron, e das perdas grandes, ou das micro tragédias de nossa existência. Ela cura os males, nos faz rir, chorar, viver as agruras de Hamlet, o sorriso inocente de Desdêmona, as dúvidas de Bentinho, o amor por Beatrice, como se eles nos fossem íntimos.

Cantamos emocionados as letras de Chico Buarque, Cartola, Noel Rosa, saímos de nós com a voz de Milton Nascimento, quase a nos tirar a certeza de que D’us não existe. Viajamos num sinfonia, numa pequena serenata noturna ou num réquiem, ainda que não compreendemos o que seja tocar um instrumento.

A prosa assustadora de John Milton, a ode onírica de Ovídio e dos seus deuses pecadores. A cosmogonia de Hesíodo, de Tolkien, ou de jogos de poder Martin, o frescor juvenil de Harry Potter. O Dr Fausto que nos avisa que “longa é a arte, tão breve é a vida”, a que Tom canta e nos embala em dança.

É o que nos resta, a Arte, aquela que desviou, um pouco, os homens da sua selvageria natural. Por ela vamos sobreviver, e ficar estático diante de um pequeno retrato de Mona Lisa.

Evoé!

“It is the summer of my smiles
Flee from me keepers of the gloom
Speak to me only with your eyes
It is to you, I give this tune”
(The Rain Song- Jimmy Page/Robert Plant)

Artigo publicado no blog de Arnóbio Rocha.

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