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O suspeito de ser escravo do século 19 é o morador das favelas e periferias do século 21

O suspeito de ser escravo do século 19 é o morador das favelas e periferias do século 21

O velho Brasil aparece nos detalhes, e o uso da palavra suspeito para se referir aos mortos pela ação da polícia no Jacarezinho é exemplo disso

No Brasil, geralmente o que se apresenta como novo na política sempre traz o cheiro de coisa velha e mofada.

Não falo aqui da velhice cronológica, aquela da qual nada escapa. Falo de uma velhice reativa, do tipo que não aceita ser ultrapassada e que sempre arruma um jeito de reaparecer de forma diferente.

Nada foi mais significativo dessa renovação da velhice do que a entrevista coletiva concedida por membros da Polícia Civil do Rio após a morte de 29 pessoas em operação na favela do Jacarezinho. Nas falas dos policiais, o Brasil, mais uma vez, renasceu. Renasceu mais podre e mais anoso. Ou morreu de novo, como queiram.

O velho Brasil aparece nos detalhes, e o uso da palavra “suspeito” para se referir aos mortos pela ação da polícia é exemplo disso. Se o uso do termo pelos representantes da Polícia Civil chama a atenção, também é perceptível a facilidade com que a imprensa aderiu à retórica da suspeição. Aliás, o papel da imprensa é fundamental para que condutas que, em outras circunstâncias, seriam consideradas invasão de domicílio, abuso de autoridade, fraude processual e homicídio transformem-se em “luta contra o crime”.

 
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