É impossível sair do Brasil. Portugal, Espanha, França? Fechados. Alemanha, Itália? Não aceitam brasileiros. Países Baixos, Escandinávia? Também não. Balcãs, Rússia, países bálticos. Nem pensar, brasileiros não entram. Suiça? Claro que não! Reino Unido? Só com quarentena na chegada e em raros casos, específicos, sem poder sair, quase uma prisão.
E nos EUA? O Trump é amigo do Bolsonaro. Fechados a partir da próxima semana. Quem passou pelo Brasil não entra nos isteites, salvo se residente lá, e ainda assim com quarentena. Oceania? Desista, óbvio que não.
América Latina? Nenhum país à exceção do México, mas não há voos para lá, todos cancelados.
Lembram daqueles patriotas zurrando pelo impeachment da Dilma porque o dólar estava a R$ 2,40? Quero voltar para a Disney! Pois é. O real hoje é a moeda mais desvalorizada no mundo. Custa o dobro. Console-se, mesmo que você pudesse comprar dólares a R$ 6,00, por culpa dos bolsonaristas que boicotam o isolamento, nenhum país aceitaria você, brasileira ou brasileiro. Querem distância de nós. O Brasil, acima de tudo, está preso em suas fronteiras.
As políticas neoliberais, desde o golpe de 2016, destruíram a economia. Com Guedes a coisa ficou pior. A renda despencou. Bolsonaro é desprezado internacionalmente. E nós, por aceitarmos esse governo, sofremos as consequências. Centenas de empresas estrangeiras já anunciaram que deixarão de comprar produtos brasileiros. Outras não venderão para nós. Somos párias. O ministro do meio-ambiente quer aproveitar a pandemia para passar a boiada, destruir a Amazônia. O da Educação quer destruir os povos indígenas. O da economia colocou uma granada no bolso dos parlamentares, os funcionários públicos ficarão dois anos sem reajuste nos vencimentos. Não poderiam viajar mesmo, consolem-se!
Mas nem tudo são más notícias. A partir de segunda os curitibanos poderão voltar aos shoppings. Terão liberdade! O prefeito e o governador atenderam aos apelos do empresariado. O mito venceu e, depois da divulgação do vídeo da reunião ministerial, comemorou comendo um cachorro-quente em uma das super-quadras em Brasília. Seu exemplo sempre é edificante. Querem nossas hemorróidas, nossa liberdade, grunhiu o jaguara na reunião ministerial reverberada pela imprensa. Embora não tenhamos entendido a sinonímia entre hemorróidas e liberdade – parece que algo ali não cheira bem – poderemos voltar a consumir! A vida sem consumo não é vida, não é mesmo?
E poderemos nos armar, para nos defendermos da ditadura de prefeitos e governadores (todos comunistas, como o bosta e o estrume), para defender nossa liberdade (rectius: hemorróidas). Não vai dar para ir toda hora para Miami comprar ternos (lembram do juiz presidente do sindicato deles?), nem para nos atualizarmos culturalmente naqueles outlets ou nos musicais da Broadway. Paciência. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.
Viajar é chato. Tem que ir a museus, andar de metrô com um monte de imigrantes, comer aquelas comidas deles. Os shoppings no Brasil são mais divertidos. Tem que abrir tudo, o Brasil não pode parar. Somos párias, e daí? Essa cuestão, depois das mortes de quem tiver que morrer, vai ser resolvida, talquei?
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