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Por que defender a causa animal é defender a democracia?

Por Adriana Cecilio

O bom funcionamento da democracia depende da participação plural de ideias, de enfrentamento ideológico, da presença e possibilidade de manifestação de quem se contrapõe ao pensamento majoritariamente imposto. É consabido que as pautas da sociedade são muitas e obviamente, nem todas poderiam estar representadas no parlamento, a pergunta que devemos fazer é: quando a ausência de representatividade pode causar um desequilíbrio na democracia?

Entendemos que a melhor resposta para essa questão é: quando a ausência de contraponto faz com que um grupo possa se utilizar do poder para defender interesses privados, se valendo de sua posição para constranger debates necessários, dificultar acesso a dados relevantes e com isso impossibilitar a sociedade de decidir, livre e conscientemente, sobre seus hábitos e costumes.

Atualmente, muito se fala sobre a proteção animal. A causa é dividida em diversas frentes. Os chamados “protetores de animais”, em especial cães e gatos, já possuem representantes nas casas legislativas. É interessante dizer que, atualmente, diversos parlamentares foram eleitos exclusivamente com base no discurso em prol da causa animal. O que demonstra a força e o apelo popular do tema.

Entretanto, a causa animal não se restringe aos protetores de cães e gatos. Todos os animais merecem o mesmo respeito e preocupação. Animais são seres sencientes, sentem medo, afeto, são evolutivos, possuem um aguçado senso de família, demonstram inteligência em graus diferenciados do raciocínio humano e, a sua maneira, são capazes de compartilhar emoções e aprendizados. A luta pelo fim da exploração animal tem uma correlação direta com a preservação do meio ambiente, que é um tema central para toda a sociedade.

No Congresso Nacional Brasileiro, temos a chamada “bancada do boi”. Um grupo de parlamentares que lá estão exclusivamente defendendo os interesses do agronegócio. Em razão disso, pouco ou nada é divulgado a respeito dos impactos da agropecuária em relação ao meio ambiente, em especial os danos causados pela criação industrial de animais para consumo.

Vamos trazer aqui, algumas informações que precisam ser amplamente difundidas e trazidas ao debate em nosso país. De acordo com o Relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), a indústria agropecuária é a que mais consume recursos hídricos. O movimento “Menos 1 lixo” menciona esses dados com precisão:

“um boi de 3 anos consome, durante toda a vida, 3 milhões de litro de água: 24 milhões pra se hidratar e 7 milhões pros serviços da indústria. Ele consome 1300 kg de grãos e, assim, pra gente comer 1 kg de carne consome quase 16 mil litros de água, o que uma pessoa precisa pra viver por 4 meses, segundo a ONU. O gado é o maior consumidor de recursos hídricos da cadeia. E quem consome carne todos os dias, demanda quase 4 mil litros de água. O feijão, por exemplo, consome 10% disso pra mesma quantidade de comida.”

Segundo dados informados no documentário Cowspiracy, para produção de 450 g de hamburguer são necessários 9.500 litros de água; de ovos, 1.800 litros e para o queijo, 3.400 litros. Ou seja, a produção industrial de animais impacta tremendamente na questão da escassez hídrica, que já é motivo de alerta mundial. É desnecessário dizer que sem água não existe vida. Então, por que contribuir com uma indústria que utiliza, desnecessariamente, um volume tão expressivo do bem mais precioso para a sobrevivência da vida humana?

Ainda, o excremento dos animais da pecuária produz gás metano em uma concentração que consegue ser tão ou mais nociva para o meio ambiente que os gases resultantes do uso de combustíveis fósseis. O gás metano produzido por eles, representa 51% da poluição responsável pelo desequilíbrio do efeito estufa. São os rebanhos de animais, criados de forma industrial para atender uma demanda, que nem deveria existir, os grandes responsáveis pelas graves alterações climáticas que estamos presenciando globalmente (1).

A produção de animais consome 1/3 da água potável do planeta, ocupa 45% da superfície terrestre, é responsável por 91% da devastação da Amazônia e é a principal causa de extinção de espécies no mundo; também é responsável pelas chamadas “zonas mortas” nos oceanos e pela destruição de habitats naturais para o cultivo de soja, que é utilizada para alimentar esses animais.

Segundo o PhD Will Tuttle, autor do best seller “The World Peace Diet”, as florestas estão sendo devastadas em uma velocidade 4.050 m2 por segundo (o tamanho equivale a um campo de futebol) e o que está por trás de toda essa destruição é a indústria agropecuária. Nada disso é divulgado abertamente à população, como deveria ser.

O autor da obra “Comfortably Unaware”, Richard Oppenlander, explica que a agropecuária criou mais de 500 “zonas mortas” carregadas de hidrogênio nos oceanos, isso representa, aproximadamente, mais de 246.049 km2 de áreas totalmente sem vida nos oceanos. Esses dados são de 2014, ano que o documentário Cowspiracy foi publicado.

A situação dos oceanos é crítica, segundo a ONG Sea Shepherd, há dados cientificamente comprovados de que, se a pesca industrial seguir no mesmo ritmo, não teremos mais peixes nos oceanos no ano de 2048. Cerca de 28 toneladas de peixes são retiradas dos oceanos por ano, os animais não conseguem se reproduzir no mesmo ritmo. A pesca industrial predatória está acabando com a vida nos oceanos.

Lauren Ornelas, Diretora da ONG Food Empowerment Project, esclarece que para 450 g de peixe serem retiradas do mar, cerca de 2,2 kg de outros animais marinhos ficam presos desnecessariamente nas redes de pesca. Tartarugas, golfinhos, baleias (sim, as redes são gigantescas), tubarões e incontáveis animais marinhos que não servem para alimentação humana, morrem desnecessariamente todos os dias, presos nas redes de pesca industriais.

Cerca de 40 a 50 milhões de tubarões são mortos em linhas e redes em razão dessa prática que a indústria denomina “captura acessória”. É esse o nome dado aos animais que são mortos “por consequência”, porque estavam ali no caminho das redes de pesca. Quem consome esses produtos financia a devastação que está ocorrendo em nosso planeta. Muitos preferem não saber dessas questões, mas com certeza, inúmeras pessoas concordariam em mudar seus hábitos alimentares se tivessem acesso a estes dados. Mas essas informações simplesmente não são divulgadas.

É preciso construir esse debate, trazendo a público elementos para que a população possa escolher se deseja continuar financiando a extinção do planeta ou não. Para que isso aconteça, é essencial que no parlamento haja representantes da causa animal que possam fomentar essas discussões e fazer o contraponto necessário às propostas encampadas pela bancada do boi.

Nesse sentido, afirmamos que defender a causa animal é uma forma de defender a democracia. Se em uma democracia o poder vem do povo, ele precisa ser informado para tomar decisões que de fato atendam aos interesses da sociedade. É impossível ser verdadeiramente informado, se os meios de comunicação são financiados pela indústria e se nos parlamentos só existem representantes da indústria agropecuária.

Assim, cabe aos partidos políticos investir de forma séria em candidaturas de defensores da causa animal, não só de protetores de pets, mas também de ativistas que possuam essa visão integral da pauta animalista, que, a partir do olhar empático em relação aos demais seres vivos, proponham um debate que englobe a vida desses seres e a preservação do meio ambiente, por conseguinte, a de nosso planeta.

Sem políticos que tragam esses temas a lume, a sociedade brasileira seguirá sem condições reais de decidir, por absoluta falta de conhecimento, sobre questões que possuem um impacto direto na qualidade de vida de todas as pessoas, e que, são essenciais para a existência humana no planeta.

1 https://www.cepea.esalq.usp.br/br/documentos/texto/pecuaria-de-corte-brasileira-impactos-ambientais-e-emissoes-de-gases-efeito-estufa-gee.aspx

https://believe.earth/pt-br/producao-de-carne-e-o-efeito-estufa/

https://www.ecycle.com.br/6037-gases-de-efeito-estufa.html

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