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Somos iguais em quê? Dados sociais mostram que negro continua na inferioridade

Somos iguais em quê? Dados sociais mostram que negro continua na inferioridade

Por Andrew Souza Silva

Apesar da lei contra o racismo, negros e pardos têm renda menor, menos acesso à saúde e educação, e também são as maiores vítimas da violência

É inquestionável que o racismo em nossa sociedade figure como um problema urgente a ser combatido. Hoje, mesmo após mais de cem anos dos movimentos abolicionistas e do próprio fim da escravidão, é comum encontrarmos atos racistas e preconceituosos, os quais constrangem o indivíduo em relação a seu semelhante – o que resulta do arcaico legado racista que herdamos e perpetuamos em nosso processo de formação social. O negro figura-se sempre como inferior.

No Brasil, ao longo das últimas décadas foi necessária a criação de mecanismos jurídicos para assegurar a igualdade entre todos os brasileiros. A Lei nº 7.716/1989 (Lei Caó), fruto da Constituição Federal de 1988, passou a ser um marco importante nesse sentido, ao tratar dos crimes de racismo.

Embora esses mecanismos legislativos tenham surgido como mais uma ferramenta na tentativa acabar com o racismo vigente no país, percebe-se que poucos foram os avanços nesse campo, uma vez que ainda é frequente e constante a violência contra a população negra.

Embora hoje perceba-se mais abertamente a ideia de discriminação racial no país, ainda assim o racismo se apresenta de forma estruturada, velada, mascarada (e em algumas ocasiões, escancarada), fazendo com que os negros ainda ocupem destaque nos baixos indicadores sociais do país. E mesmo com a população brasileira sendo formada majoritariamente por 53,9% de pessoas negras.

Dados recentes do IBGE apontaram que existe uma grande diferença no acesso a níveis de ensino pela população negra: das pessoas na faixa etária entre 15 e 24 anos que frequentavam o nível superior, 31,1% dos estudantes eram brancos, enquanto apenas 12,8% eram negros e 13,4% pardos. Esse levantamento ainda aponta que enquanto para o total da população a taxa de analfabetismo é de 9,6%, entre os brancos esse índice cai para 5,9%; e entre pardos e pretos a taxa sobe para 13% e 14,4%, respectivamente.

O desemprego apontando como um dos maiores problemas enfrentados pelo país na atualidade, apresentou dados desiguais. Quando comparado a variável cor da pele, a taxa de desemprego entre os que se declararam brancos (10,2%) ficou abaixo da média nacional (12,7%) no primeiro trimestre de 2019. Enquanto isso, as taxas entre pretos (16%) e pardos (14,5%) ficaram acima da media.

Segundo dados do Ipea, no Brasil o rendimento médio mensal dos brancos chegou a (R$ 1.780,60), quase o dobro do valor relativo aos grupos de negros (R$ 1.012,76).

A disparidade de renda entre negros e brancos reflete, entre outras coisas, a desigualdade no trabalho. De acordo com o Instituto Ethos, em 2017, nas 500 maiores empresas com operação no Brasil, menos dos cargos executivos são ocupados pela população negra, e apenas 6,3% nos cargos de gerência.

Na área da saúde a situação não é diferente, a análise do Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil aponta que nas consultas do SUS os negros e pardos são minoria, como, por exemplo, mostram os dados sobre o exame de pré-natal, no qual 71% das mães de filhos brancos fizeram mais de sete consultas; já o número de mães de filhos pretos e pardos que passaram pelos mesmos exames foi 28,6% inferior. Em relação à Doença de Chagas, 86% da população que notifica a doença é composta por negros (quase sempre diagnosticada tardiamente). Sobre a percepção de saúde: 37,8% da população adulta preta ou parda avaliou sua saúde entre regular e muito ruim, já o índice fica em 29,7% entre as pessoas brancas. Os dados preocupam pelo fato de que muitas vezes a população negra tem no serviço público a única fonte de melhoria de sua saúde e cada vez mais esse sistema apresenta-se burocratizado, mecanizado e insensível, mostrando o andamento do desmonte do Estado de bem-estar social.

Na análise das religiões cultuadas no Brasil, verifica-se um aumento nos casos de intolerância e violência, principalmente contra as religiões de matrizes africanas. Agressões físicas e verbais a membros dessas religiões, destruição de terreiros, queima de imagens sagradas têm sido frequentes nos noticiários, e os números de denúncias crescem a cada ano. São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking.

Quando analisados outros critérios para o entendimento das relações raciais no Brasil, observamos as mesmas disparidades históricas entre brancos e pretos. De acordo com o Mapa da Violência, as mortes por assassinato entre os jovens negros no país são, proporcionalmente, duas vezes e meia maior do que entre os jovens brancos.

De um lado, se houve queda de 25,5% dos homicídios da população branca; em contrapartida, houve aumento de 29,8% dos assassinatos na população negra. Ao longo dos anos permanece alto o índice de violência sofrida pela população negra.

Diante desses dados, nota-se que em várias áreas ainda não se fez valer o direito de igualdade entre negros e brancos. E ai nos perguntamos, somos iguais em quê?

Artigo publicado originalmente na Rede Brasil Atual.

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