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Verdadeira disputa democrática só acontece com preservação do Estado de Direito

Verdadeira disputa democrática só acontece com preservação do Estado de Direito

Luta contra ameaça fascista não pode implicar perda de identidade dos progressistas e diluição de seus propósitos

Em 2016, em entrevista à Folha, afirmei que, após a crise de 2008, a tendência política mundial, inclusive no Brasil, era que: “direita e extrema direita sejam o polo das próximas disputas”. Perguntado sobre qual seria o futuro da esquerda, respondi: “O desafio da esquerda é maior do que nunca; vamos ver o que ocorre, até 2018, em torno da candidatura do Ciro Gomes, se o Lula vai ser impedido de disputar”.

Três acontecimentos alteraram o quadro substancialmente: 1) 0 colapso do governo Temer, a partir do Joesley Day; 2) a devastação imposta ao tucanato pela Lava Jato, com a prisão de três ex-governadores (MG, PR e GO) e sérias acusações contra outros dois, candidatos derrotados à Presidência (Serra e Aécio); 3) a prisão política de Lula e seu consequente crescimento nas pesquisas de intenção de voto.

Muitos imaginaram que o destino de Lula seria o mesmo do dos ex-governadores tucanos: a desonra e o ostracismo. Tomaram suas decisões com base, não no que era o certo a fazer, mas no cálculo político mais mesquinho e, até certo ponto, racional. Os verdadeiros progressistas mantiveram-se firmes na defesa do que consideravam justo, mesmo pagando o preço que a história cobra de quem se coloca contra a maré.

No segundo turno das eleições de 2018, candidatos a governador que foram ao segundo turno em seis estados —três do PSDB e três do PDT— declararam apoio ao fascista Bolsonaro, que venceu.

O sonho da direita de derrotar a extrema direita com o apoio da esquerda, como se deu na França, transformou-se no pesadelo Bolsonaro com a apoio da direita. Como se os Clinton e os Obama se aliassem a Trump para derrotar Bernie Sanders. Como se Macron se aliasse a Le Pen para derrotar Mélenchon. Uma escolha muito difícil, alguns diriam.

Em uma outra entrevista à Folha, em 2018, digerida a derrota, disse que o governo Bolsonaro nos impunha uma estratégia mais complexa do que a usual, “trabalhar em duas frentes: uma de defesa dos direitos sociais, que pode agregar personalidades que vão defender o SUS, o investimento em educação, a proteção dos mais pobres; a outra, em defesa dos direitos civis, da escola pública laica, das questões ambientais”. Em outras palavras: uma frente progressista; uma outra, antifascista. A segunda mais ampla que a primeira.

Essa necessidade, contudo, não pode implicar perda de identidade dos progressistas e diluição de seus propósitos —no fundo o que a direita quer.

Quando superarmos a ameaça fascista e garantirmos a preservação do Estado de Direito, se dará a verdadeira disputa democrática, entre diferentes times e sonhos. Espero que sem trapaça desta vez.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo.

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