As mulheres e meninas são a maioria na maior parte das formas de escravatura moderna: 99% de todas as vítimas de exploração sexual, 84% das vítimas totais de casamentos forçados e 58% das vítimas de trabalho forçado, denuncia a ONU.
Em todo o mundo, há pelo menos vinte e nove milhões de mulheres e meninas vítimas de escravatura moderna, diz um relatório das Nações Unidas. Na definição de “escravatura moderna” entram situações variadas, de trabalho escravo, a casamentos forçados, servidão doméstica ou servidão por dívidas.
O número é avassalador, quase três vezes a população de Portugal, mas pode ser tornado mais palpável: uma em cada 130 mulheres e raparigas está neste momento a viver uma situação de escravatura moderna. As declarações são de Grace Forrest, da Walk Free, uma organização contra a escravatura, à agência de notícias Associated Press (AP).
“A realidade é que há hoje mais pessoas a viver em situação de escravatura do que em qualquer outra altura da história da humanidade”, afirmou Grace Forrest numa conferência de imprensa das Nações Unidas.
Para a organização, escravatura moderna é “a supressão sistemática das liberdades de uma pessoa, em que uma pessoa é explorada por outra para benefício pessoal ou financeiro desta última”.
O número é o resultado de levantamentos feitos pela organização contra a escravatura, mas também pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), ambas agências da Organização das Nações Unidas (ONU).
Forte marca de género
E o foco no facto de se tratarem de mulheres e meninas não é acidental, elas representam a maioria da maior parte das formas de escravatura moderna.
“O que este relatório demonstrou é que o género representa uma desvantagem para as raparigas desde a conceção, ao longo de toda a sua vida”, disse. A face da escravatura moderna “mudou radicalmente”, afirma Grace Forest.
De acordo com o relatório, intitulado “Stacked Odds” (“Em desvantagem”), citado pela Lusa, as mulheres representam 99% de todas as vítimas de exploração sexual forçada, 84% das vítimas totais de casamentos forçados e 58% das vítimas de trabalho forçado.
“Estamos a assistir à normalização da exploração na nossa economia, nas cadeias transnacionais de abastecimento e também nas rotas das migrações”, disse.
Como em qualquer análise de situações clandestinas, a estimativa apresentada pelo relatório é conservadora. E a situação poderá, receiam, ter piorado com a pandemia de covid19, uma altura em que se registaram “significativos aumentos das situações de casamentos forçados e envolvendo menores de idade e dos casos de exploração no trabalho em todo o mundo”.
As Nações Unidas, em parceria com a Walk Free, vão lançar uma campanha com o objetivo de pôr fim ao casamento forçado e de menores de idade, algo que em 136 países continua a não ser crime, e eliminar os sistemas legalizados de exploração, como o ‘Kafala’, que prevê que os empregadores dos trabalhadores migrantes sejam responsáveis pelo respetivo visto e estatuto legal, enquanto durar o contrato de trabalho.
“Sabemos que as mulheres e raparigas estão a ser vítimas de níveis sem precedentes de exploração e de trabalho forçado em cadeias de abastecimento dos produtos que compramos e usamos todos os dias, desde a roupa ao café e tecnologia”, disse Forrest, defendendo uma maior responsabilização das empresas multinacionais.
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