728 x 90

Advogado que propôs cassação de Dallagnol no TSE diz que sofre ameaças de morte

Advogado que propôs cassação de Dallagnol no TSE diz que sofre ameaças de morte

Por Mônica Bergamo com colaboração de Bianka Vieira, Karina Matias e Manoella Smith

‘Estou sentindo na pele o que é a reação da extrema direita’, diz Michel Saliba

O advogado Michel Saliba, que representou o PMN na ação que levou à cassação do mandato do ex-deputado federal Deltan Dallagnol, diz ter recebido ameaças de morte ao longo desta quinta-feira (18) por causa de sua atuação no caso.

O defensor relata que um carro rondou o seu escritório de advocacia repetidas vezes, e que diversas ligações anônimas foram feitas ao local por detratores.

Uma das supostas ameaças foi gravada. Nela, uma voz masculina pode ser ouvida xingando uma funcionária de Saliba. “[Você é] Outra filha da p* também”, afirmou. “Eu trabalho com gente honesta, não trabalho com vagabundo. Quem trabalha com vagabundo é vagabundo também, entendeu?”, disse ainda.

Em determinado ponto da ligação, o suposto agressor questionou o envolvimento do advogado na cassação de Dallagnol. “[Inaudível] Fazer lobby para pedir a cassação do Dallagnol… Você é um vagabundo. O seu patrão é um vagabundo, é um filho da p*. Mas nós vamos pegar ele. Nós vamos pegar ele”, afirmou.

Durante o julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Saliba foi um dos que fizeram sustentação oral para defender a cassação do mandato do então deputado. Diante das ameaças que relata ter recebido nesta quinta, o advogado decidiu contratar seguranças para vigiar o seu escritório e a sua residência.

“Pela primeira vez, estou sentindo na pele o que é a reação da extrema direita. Em 31 anos de advocacia, nunca vivi isso”, afirma ele à coluna. “É uma coisa assustadora porque tomei contato com a ausência de padrão civilizatório que notadamente marca manifestações de pessoas ligadas à extrema direita. Estou realmente muito assustado, perplexo”, segue o advogado, que integra o grupo Prerrogativas.

Saliba ainda destaca que o PMN é um partido de direita e atuou no caso de forma independente da Federação Brasil da Esperança, composta por PT, PC do B e PV, que também ajuizou uma ação pedindo a cassação de Dallagnol. “Se o PT não fosse impugnante, o resultado seria o mesmo”, afirma.

O advogado diz que levará os registros telefônicos desta quinta-feira e a gravação em vídeo do carro que rondou seu escritório às autoridades policiais, a fim de que seja realizada uma investigação.

“No país de hoje, a realização de um julgamento que desagrada um lado é pior do que a reação de uma torcida organizada. Se você tiver um [jogo entre] Palmeiras e Corinthians, terá menos risco do que em um julgamento que envolva um lado político”, afirma o defensor.

O advogado Luiz Eduardo Peccinin, que defendeu a federação, também afirma à coluna ter recebido ameaças, mas por meio de suas redes sociais. Algumas, relata, fizeram menção à sua família. “Espero que sofram demais”, dizia uma das mensagens.

“Essas mensagens só mostram que estamos do lado certo. Como dizia Sobral Pinto, ‘a advocacia não é profissão de covardes’. Bandidos jamais me intimidarão. No que depender de mim, ameaças só me darão mais combustível para trabalhar mais firme no cumprimento da lei e na defesa da Constituição”, diz Peccinin.

A decisão pela cassação de Deltan Dallagnol foi tomada na terça-feira (16) sob a alegação da impossibilidade de o então procurador ter deixado a carreira no Ministério Público enquanto respondia a uma série de sindicâncias no órgão.

Mesmo fora do cargo, o parlamentar cassado ainda pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele disse estar indignado com a decisão do TSE e que está em curso no Brasil uma “vingança sem precedentes” contra “agentes da lei que ousaram combater a corrupção”.

Publicado originalmente na Folha de S.Paulo.

Compartilhe
Grupo Prerrô
ADMINISTRATOR
Perfil

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *

Mais do Prerrô

Compartilhe