Por Mônica Bergamo
Proposição foi feita pela Comissão de Direitos Humanos da entidade
O Conselho da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo aprovou nesta segunda-feira (19) um parecer que reconhece como genocídio o massacre de cerca de 1,5 milhão de armênios pelo antigo Império Otomano (que deu lugar à atual Turquia) em 1915.
A proposição foi feita pela Comissão de Direitos Humanos da entidade após solicitação do Conselho Representativo da Igreja Apostólica Armênia do Brasil.
“A maior perversão de um genocídio é seu não reconhecimento, pois de algum modo ele ocasiona a perpetuação do mesmo, inclusive em gerações futuras”, afirmam, em ofício, a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Ana Amélia Mascarenhas Camargos, e a consultora do colegiado Kenarik Boujikian.
“A estratégia de deportações em forma de caravanas rumo ao deserto, que dizimou milhares de pessoas, continuam a soar na vida das gerações seguintes e de toda a humanidade”, seguem.
Em abril deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu o massacre como genocídio. “O povo americano homenageia todos os armênios que morreram no genocídio que começou neste dia, 106 anos atrás”, disse na ocasião.
O gesto gerou reações na Turquia. O porta-voz do presidente Recep Tayyip Erdogan, Ibrahim Kalin, disse que a fala de Biden “apenas repete as acusações daqueles cuja única agenda é a inimizade contra nosso país”.
Na Armênia, por sua vez, a declaração do líder americano foi recebida com entusiasmo. “É um dia importante para todos os armênios. Os EUA demonstraram mais uma vez seu compromisso inabalável com a proteção dos direitos humanos e dos valores universais”, disse o premiê Nikol Pashinian.
A violência contra os armênios começou durante o início da dissolução do Império Otomano. Alinhados com a Alemanha na Primeira Guerra, os otomanos queriam impedir que os armênios se aliassem à Rússia e ordenaram deportações em massa.
A estimativa da Armênia é que 1,5 milhão de pessoas tenham morrido de fome, assassinados por soldados otomanos ou pela polícia. Centenas de milhares de sobreviventes, forçados a deixarem seu território, buscaram refúgio na Rússia, nos EUA, no Brasil e em diversos outros países.
Oficialmente, a Turquia reconhece que morreram de 300 mil a 400 mil pessoas, mas diz que as mortes teriam ocorrido no contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando os armênios apoiavam a Rússia, e não como resultado de uma política deliberada de extermínio.
A maioria dos historiadores, no entanto, reconhece que houve uma política de Estado nas mortes e vê esse episódio da história armênia como o primeiro genocídio do século 20, opinião reforçada pela Associação Internacional de Acadêmicos do Genocídio.
Publicado originalmente na Folha de S.Paulo.
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