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Crer na política: Uma encruzilhada

Crer na política: Uma encruzilhada

Entre a grandeza e o opróbrio, a fala de Glauber Braga marca um momento decisivo da política brasileira.

Por Caio Leonardo

Acompanhei do início ao fim a via crucis de Glauber Braga, essa terça-feira, na CCJC. Ali se viu do melhor e do pior que o Parlamento brasileiro tem e produz.

Uma divindade como Erundina e a envergadura imensurável de Ivan Valente, o nosso Bernie Sanders, produziram falas que merecem ser ouvidas pelas gerações das gerações.

Lindbergh fez-se ouvir sob um silêncio sólido, que nem uma katana cortaria. Era a solidez da solidão dos envergonhados, petrificados diante da verdade vergastada em suas caras. Aquele silêncio que sucede a queda de uma imensa pedra morro abaixo, pânico, terror diante do inexorável dano que sua fala sem nenhuma afetação, sem qualquer recurso retórico, apenas com a autoridade de quem evidencia que o ambiente naquela Casa está insustentável, que é preciso distender os ânimos, recuperar a urbanidade.

“The Center cannot hold”, escreveu William Butler Yeats, ao anunciar a Segunda Vinda, The Second Coming, no sentido de uma sublevação da ordem e o descenso ao Caos.

Veio a manhã e veio a tarde, fez-se este primeiro dia do julgamento que definirá se o Centro – i.e., a política como estabilizadora das tensões sociais – se manterá coeso ou se desceremos ao Caos.

Não subestimem a importância do julgamento de Glauber Braga. A fala dele hoje é de marcar a História como Marcio Moreira Alves, como Ulysses Guimarães, como – e ele foi lembrado – como Tancredo chamando de Canalha! a Auro de Moura Andrade ao declarar vaga a presidência da república (em minúsculas) em primeiro de abril de 1964.

A hombridade de Glauber Braga encontra poucos antecedentes à mesma altura. Não é todo dia que alguém enfrenta de peito aberto não as cadelas, mas sim as hienas do fascismo venal e raso, com aquela altivez, aquela segurança, aquele “aplomb” – quem hoje merece a recuperação desse termo tão esquecido, tão inencontrável na realidade, senão ali, na voz do filho de Saudade?

Glauber – em alemão, “aquele que crê” – Glauber é o ideal do homem público que está a ser espezinhado por quem se enoja de si mesmo ao se ver na crítica direta, clara, reta e incontornável que vem de suas falas.

Ontem, 29 de abril de 2025, é um dia para a história do Parlamento. Como se encaixará na História é questão a ser respondida pelo plenário da Câmara dos Deputados: Se na grandeza ou se no opróbrio.

Artigo publicado originalmente no Congresso em Foco.

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