Por Carlos Madeiro
O agravamento da covid-19 em um paciente obriga equipes médicas de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) a realizarem a intubação em quase metade dos internados. Mesmo assim, desses, dois a cada três não resistem e morrem durante o tratamento.
Os dados fazem parte do projeto “UTIs Brasileiras”, da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) em parceria com a empresa Epimed, que traz os dados 98 mil internações desde 1º de março de 2020.
Os números apontam que, dos 46,3% que precisaram de ventilação mecânica nas UTIs em um ano, 66,3% morreram.
A ventilação mecânica é um método utilizado quando o paciente infectado pelo novo coronavírus atinge um nível de comprometimento dos pulmões que causa uma debilidade respiratória severa.
Mas que fique claro que o problema não é o processo de intubação e, sim, a gravidade da doença que faz a evolução resultar em morte. Uma prova disso é que, nas mesmas UTIs brasileiras, os pacientes que não precisam de ventilação mecânica (ou seja, menos graves) têm mortalidade de 9%.
“É preciso evitar esse mal-entendimento. Algumas pessoas começaram a achar: ‘Se eu for intubado, vou morrer’. Aí aconteceram alguns absurdos de pessoas não irem para o hospital e morrerem em casa. Os pacientes precisam entender que, em casos graves, a única maneira dele não morrer é essa. Sem isso, a chance de morte é de 100%”, afirma Ederlon Rezende, coordenador do projeto e ex-presidente da Amib.
A intubação é um procedimento feito há anos em hospitais pelo mundo todo, com alto grau de eficiência e segurança, afirma Rezende.
Quando feita da forma correta, o paciente não sente absolutamente nada. A despeito de não ter nenhuma droga que ataque o vírus, a chance de ele sobreviver passa por mantermos sua respiração enquanto o corpo combate a infecção.
Ederlon Rezende, coordenador do projeto “UTIs Brasileiras”
Mais vidas salvas
Segundo Rezende, apesar do alto índice de mortes registradas, as UTIs brasileiras hoje salvam mais pacientes do que no começo da pandemia. As equipes aprenderam a manejar pacientes graves.
“Um estudo feito com os 250 mil pacientes que precisavam de ventilação mecânica mostrou uma mortalidade de 80%. Estamos aprendendo a melhorar a sobrevida e temos conseguido alguns avanços”, diz.
A intubação feita no momento certo aumenta a chance de sobrevida dos pacientes.
Entretanto, uma pesquisa conduzida por oito hospitais de excelência do Brasil e institutos de pesquisa revelou que 25% dos pacientes intubados morrem por sequelas seis meses após deixarem o hospital.
Tempo longo de internação
Outro dado que chama a atenção é como um paciente ventilado passa muito tempo intubado. “Eles ficam quase duas semanas, uma média de 13,1 dias. Isso é indicativo de como essa doença é grave. Não é comum esse tempo. Em regra, o período de ventilação mecânica é metade disso”, diz.
Conforme o UOL havia revelado em junho de 2020, a mortalidade de pacientes em UTIs é bem maior em hospitais públicos do que nos particulares.
Entre as unidades privadas, no primeiro ano de pandemia, a mortalidade entre os pacientes com covid-19 foi de 27,2%. Nos hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde), ela chegou a 49,4%.
“Temos que destacar vários fatores para isso. O primeiro é que os pacientes que procuram o serviço público, habitualmente, têm um acesso limitado à atenção primária, são pacientes com mais comorbidades, que têm uma condição mais debilitada de quem usa o serviço privado. E, como a disponibilidade de leitos é muito maior na rede privada do que na pública, você vai receber pacientes menos graves. Além disso, é muito difícil encontrar uma UTI privada colapsada”, explica Rezende.
Em novembro, reportagem do UOL também revelou que a quantidade de mortes esperada nas UTIs, a chamada TMP (taxa de mortalidade padronizada), estava em 1,18, ou seja, com desfecho de óbito 18% maior que o esperado para a gravidade média dos pacientes nas unidades.
“Não é um índice definitivo. A covid-19 requer mais quantidade de suporte de multifunções orgânicas. São pacientes mais graves e que ficam mais tempo internados.”
Mas atualmente as equipes trabalham com otimismo devido à chegada da vacina.
“A gente vive essa expectativa positiva: será que vamos aumentar o percentual [de pessoas salvas] e diminuir mais os casos graves? Isso vai impactar e ter melhores desfechos? Estamos apostando nisso, mas é importante dizer que o nosso programa de vacinação está indo a passos de tartaruga”, diz.
Publicado originalmente no UOL.
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