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Ex-CEO da Dior no Brasil luta por eleição de Lula no primeiro turno

Ex-CEO da Dior no Brasil luta por eleição de Lula no primeiro turno

Por Leonardo Lellis

Empresária da alta sociedade de São Paulo, Rosângela Lyra abandonou o PSDB e faz campanha agora para vencer as resistências ao petista

Uma das vozes mais ativas da alta sociedade nos protestos contra a corrupção durante o governdo de Dilma Rousseff e no apoio à operação Lava Jato, a empresária Rosângela Lyra, ex-CEO da Dior no Brasil, surpreendeu os amigos ao empunhar uma bandeira impensável há alguns anos: a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas Eleições de 2022.

Para ela, trata-se da única opção de evitar o que entende ser uma campanha traumática no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL). Ao lado do senador Randolfe Rodrigues e do ex-senador Cristovam Buarque, que também já engrossaram o coro dos protestos contra a corrupção revelada nos governos petistas, ela assina hoje um manifesto que defende a eleição de Lula em primeiro turno.

Notória eleitora do PSDB no passado, Rosângela já fez campanha para Geraldo Alckmin (hoje cotado para vice do petista) e agora pretende repetir a dose mobilizando as mais altas rodas da sociedade para quebrar as conhecidas resistências a Lula.

Leia a entrevista:

Por que a senhora decidiu apoiar o Lula? Primeiro é porque ele tem condições de ganhar do Bolsonaro no primeiro turno. Em segundo lugar, eu acredito que, mesmo recebendo o país em frangalhos, em um contexto econômico e social diferente de quando ele assumiu após o FHC, ele fará uma ótima gestão, com a experiência e inteligência que ele tem e evitando os erros que foram cometidos no passado.

Os escândalos do petrolão e do mensalão não são um constrangimento? Eu sempre fui crítica aos erros do PT. Mas se você pensar que entre partidos grandes e médios, o PT foi o que teve menos políticos indiciados, investigados e presos. É diferente dos clichês que as pessoas falam por falta de conhecimento político e também por certa antipatia às pautas da esquerda. 

Quais clichês? Dizem que o PT é o partido que “mais roubou”. Mas para falar em “mais” é preciso comparar com outros e a gente não tem essa comparação. Nem o Lula é ladrão. A Lava Jato foi tão fundo, conseguiu resgatar tantas somas no Brasil e no exterior, então cadê o dinheiro na conta do Lula? Esses clichês só mostram que as pessoas falam sem nenhum embasamento.

Não vê chances na terceira via? De uma forma geral há bons nomes, como o da Simone Tebet, João Doria, Eduardo Leite e o próprio Alessandro Vieira, que eu gosto bastante. Mas nenhum deles eu vejo com possibilidade de conseguir ultrapassar o Bolsonaro. Eu sempre falo para quem tem muita ojeriza ao Lula, que fica com estes chavões, que se algum destes nomes tiver chance de ir para um segundo turno, para votar nele. Mas se não tiver, pelo amor de Deus, não vamos deixar por que o período entre o primeiro e segundo turno pode ser muito traumático.

A senhora sempre foi apoiadora do PSDB. O que a convenceu votar no petista agora? Nunca é da noite para o dia. É um processo. Eu era muito próxima ao Deltan [Dallagnol, ex-procurador do MPF] e ajudei bastante na campanha da Lava Jato, mas me afastei quando eu percebi que estavam forçando a barra para prender o Lula. No meu ponto de vista, eles foram pressionados pelas ruas e pelas redes sociais que diziam “não adianta prender todo mundo se o chefe da quadrilha está solto”. Nesse momento eu me afastei, vi que não estava legal e comecei a repensar algumas coisas. Fui percebendo que o PT não era aquilo tudo que tinham desenhado de ruim. O Bolsonaro também faz a gente querer ser diferente do que ele é e representa. Então a gente começa a olhar com outros olhos pautas como a do meio ambiente, de respeito às minorias, tão desprezadas e maltratadas por essa gestão. 

As suspeitas de parcialidade da Lava Jato reveladas palos diálogos dos procuradores abalou a sua confiança na operação? Minha confiança já estava abalada desde muito antes da “vaza jato”. Eu falava pro Deltan que estavam forçando a mão, estavam errando. Era uma intuição e percepção de quem estava próxima a eles, mas sem perder o bom senso e a humanidade. Quando vieram os diálogos, só confirmou.

Acha que o ex-juiz Sergio Moro fez bem em entrar para a política? O Moro morreu para mim quando ele aceitou entrar no governo Bolsonaro. 

Qual foi a reação dos seus amigos ao seu posicionamento? Eu já tinha diminuído uma parte das amizades com quem votou no Bolsonaro e continuou apoiando. Porque quem votou nele e viu que não era uma coisa boa, tudo bem. Mas votar e continuar defendendo, com tudo o que está acontecendo, é difícil continuar uma amizade. Então aí já houve uma seleção natural. Mas ainda tenho amigos que ficam com esses clichês de que o PT institucionalizou a corrupção — a corrupção está no mundo há anos, existe na França e na Alemanha, por exemplo. São os que dizem “nem Lula, nem Bolsonaro”. Uma coisa que me irrita é colocar os dois no mesmo patamar. Um é um tirano, o outro é um democrata. 

A senhora está disposta a convencê-los a votar no Lula? Eu vou dar o meu melhor para que as pessoas entendam o risco que é Bolsonaro ir para o segundo turno, que vamos ter um período muito difícil. Não merecemos isso, não podemos correr esse risco. Vou explicar que acompanho política há alguns anos, nunca fui filiada a nenhum partido, mas que tenho um pouco de conhecimento para convidá-las a esta reflexão. Se a terceira via tiver condições de ir pro segundo turno, vota na terceira via. Se não, não vamos deixar ir para o segundo turno. 

Como foi a aproximação com este grupo que defende a vitória do Lula em primeiro turno? Eu conhecia o senador Randolfe Rodrigues desde que eu criei o Política Viva, em 2013, para aproximar os políticos da sociedade e que também tem a participação do Cristovam [Buarque, ex-senador e ex-governador do DF]. Há algumas semanas o Randolfe me convidou para integrar o comitê-executivo, quando já tinham visto que eu estava declarando apoio ao Lula. Ele achou que eu poderia gostar da ideia e o que era para ser um manifesto virou um movimento. 

A possibilidade de Alckmin ser vice do Lula contribui para isso? As pessoas sempre me perguntam isso, mas não tem nada a ver. Era uma decisão que já estava tomada independentemente de o Alckmin ser vice do Lula ou não. 

Como a senhora se vê num eventual governo petista? Vamos continuar críticos aos erros que a gente vier a presenciar. Ninguém vai passar pano ou dar cheque em branco. Não somos petistas. Nunca fui filiada a nenhum partido político nem tenho interesse em contratos com o governo. Essa liberdade pra mim não tem preço. 

Entrevista publicada originalmente na Veja.

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