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Bolsonaro e Mandetta dividem conta política dos cadáveres que virão

Por Ivan Marsiglia

Bolhas do Twitter refletem xadrez da culpabilização entre presidente e ministro da Saúde

Assim que o conteúdo da entrevista concedida pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao @showdavida vazou, no início da noite deste domingo (12), antes mesmo de o programa ir ao ar, muita gente no Twitter prenunciou sua demissão.

Às 21h29, o jornalista e editor do site de notícias de esquerda @brasil247 apostou: @AttuchLeonardo “Mandetta chutou o pau da barraca e pode ser demitido nas próximas horas.”

Mandetta chamou de “coisa equivocada” a presença de pessoas “encostadas” em padarias —imagem protagonizada por @jairbolsonaro após sua visita ao hospital de campanha em Goiás no sábado (11).

Mais explicitamente, o ministro lamentou a ambiguidade da fala do governo sobre a necessidade de isolamento social no enfrentamento da epidemia, conforme destacou o jornal digital @Poder360: “‘Isso leva ao brasileiro uma dubiedade. Ele não sabe se ele escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem ele escuta’, disse Mandetta (@lhmandetta).”

O contraste ficou ainda maior com a videoconferência feita por Bolsonaro, no mesmo domingo, com líderes evangélicos. O advogado, conselheiro da ONG Human Rights Watch e comentarista da @CNNBrasil comparou: @augustodeAB “O presidente fala hoje numa live que ‘o vírus está indo embora’. O ministro da Saúde fala hoje em entrevista que maio e junho serão os meses mais duros. É isso.”

O chefe de Redação do portal digital governista @conexaopolitica se indignou: @AlbuquerqueDavy “Depois dessa entrevista no Fantástico, se eu fosse o presidente @jairbolsonaro eu demitiria Mandetta pelo Twitter mesmo. Faria uma postagem e deixaria os histéricos gritarem à vontade. As declarações do Ministro deixam claro que ele não está mais pensando na nação, apenas em si”.

Do outro lado do espectro político, a ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Margarida Salomão também criticou Mandetta, lembrando a terminologia usada por ele e pelo presidente nos embates da semana anterior: @JFMargarida “A entrevista de Mandetta ao Fantástico demonstra a limitação da figura de imagem do médico/paciente. Não, o país não é um paciente diabético que come doces. Não adianta o médico dizer que isso é errado. O ministro da Saúde é um gestor político, com o dever de tomar decisões.”

A professora foi replicada pelo diretor e roteirista Nícolas Vargas, que destacou outro ponto falho da atuação do ministério, a injustificável falta de testes no país: @nicolasvargas “Em resposta a @JFMargarida Essa defesa que o Mandetta fez no Fantástico, de não testar, com esse papinho que ‘não dá pra testar 200 milhões’, vergonhoso. ÓBVIO, mas testar todos que têm os sintomas é obrigação, assim como China e Coreia do Sul fazem com sucesso incontestável”.

 
 
 

MEANWHILE…

Depois de ficar na UTI por uma semana, recuperando-se da Covid-19, o primeiro-ministro conservador britânico, Boris Johnson, que resistiu inicialmente a implementar medidas de isolamento social no Reino Unido, publicou no Twitter um sintomático agradecimento.

@BorisJohnson “É difícil encontrar palavras para expressar a minha dívida com o NHS (o sistema público de saúde britânico) por salvar minha vida. Os esforços de milhões de pessoas em todo o país para ficar em casa valem a pena. Juntos, vamos superar esse desafio, pois já superamos muitos outros no passado. #FiqueEmCasaSalveVidas.”

PALMAS

O presidenciável Luciano Huck reapareceu, após longo silêncio sobre a crise do coronavírus, para elogiar a iniciativa do Itaú Unibanco de contribuir financeiramente para a superação da epidemia.

@LucianoHuck “Venho falando da cultura de doação, que a solidariedade deve ser mais contagiosa que o vírus. O Itaú Unibanco anunciará uma doação de R$ 1 bilhão para o combate à Covid-19. Será a maior iniciativa filantrópica já ocorrida no Brasil. Ganham a ciência, a saúde pública e todos nós.”

 
 
 

Num fim de semana de debates acalorados no Twitter, a imagem de manifestantes bolsonaristas dançando com um caixão nas costas, em pleno domingo de Páscoa na Paulista, protestando contra “a farsa do vírus”, chocou usuários da plataforma.​

O professor de direito André Figaro foi um dos que se perturbaram com o vídeo, que entra definitivamente para o longo rol de cenas dantescas da história do país: @FigaroAndre “1223 mortos. Isso aí não é gente”.

Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo.

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