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A singularidade de um coletivo

A singularidade de um coletivo

Por Gustavo Conde

A luta pela democracia exige intensa dedicação e coragem. Ao sujeito histórico digno do nome é reservada a tarefa de transpirar mobilização por todos os poros, agir em todas as frentes, oferecer o rosto em todas as contendas, sem concessões. 

A covardia é a maior inimiga do Estado Democrático. É preciso coragem para romper a mesmice subjetiva e manter viva a indomesticação que nos empurra para o futuro. 

Eis o espírito que me levou ao ‘Prerrogativas’ e o Prerrogativas a mim.

Desde muito, percebi a singularidade reservada a este coletivo de juristas. O volume de enunciações que dali brotava, o tom assertivo dos artigos, a produção incansável de debates e reflexões técnicas, a publicação integrada de livros e a ausência de toda e qualquer concessão diante da mais criminosa operação judicial já realizada em solo brasileiro – finalmente soterrada pelas evidências – eram indícios de que eu estava diante, não apenas de um ‘coletivo’, mas de um ‘acontecimento discursivo’ – nos moldes teóricos propostos pelo linguista Michel Pêcheux. 

O Prerrogativas fez tremer o regime de formulações repetitivas e erráticas que tomavam conta de uma cena pública conflagrada pela saturação política, medo e angústia, trouxe tempero, senso refinado de humor, linguagem jurídica acessível – sem facilitar – e um ethos consistente de indignação diante da demagogia violenta do justiçamento. 

Elevou a discussão sobre a Lava Jato para a dimensão dos pressupostos teóricos, emparedando a operação corrompida no campo das ideias com robustez epistemológica. 

Destravou, por assim dizer, os sentidos: permitiu que a opinião pública tivesse acesso ao rigor de reformulações hermenêuticas à luz da emergência institucional, resgatando os pilares do pensamento filosófico aplicado à significação da palavra ‘justiça’ e sua órbita significante. 

Na incredulidade de um direito esmagado por oitivas-nonsense, cerceamentos abusivos e despachos delirantes, o Prerrô cumpriu a missão de re-apresentar ao próceres da parcialidade um campo do saber esquecido por eles: a lógica. 

Para um linguista, o conjunto de ações do coletivo significou o mais eficiente elemento estratégico no combate à onda de violência institucional que tomou conta do país nos últimos 6 anos, uma vez que sua consequência produziu o antídoto argumentativo não apenas à Lava Jato – essa excrescência macabra do submundo jurídico – mas ao próprio bolsonarismo, com seu terraplanismo tóxico, misto de mau-caratismo, preguiça cognitiva e estilhaçamento gramatical. 

O Prerrô abriu caminho para o reencontro do país consigo próprio – por isso ele é um ‘acontecimento discursivo’, um evento no mundo da produção de sentido que se alastra pelo tecido social e produz toda uma nova realidade de formulações e tonalidades no bojo do debate público. 

O coletivo também soube povoar o espaço digital de maneira irresistível. Fez as pontes com todas as mídias, combateu o ódio, denunciou atrocidades e inflamou a comunicação confusa de alguns veículos, trazendo de volta cifras de autoestima e engajamento soberano para os setores democráticos ainda assustados com tanta violência institucional associada à negligência intelectual.  

Não se faz um país apenas nos ciclos eleitorais, embora eles sejam os mais importantes. Um país e uma democracia se constroem de maneira intermitente, com ações múltiplas, em todas as frentes do campo político e do campo do saber. 

Brindemos à ousadia do Grupo Prerrogativas, que soube semear com profunda espontaneidade e nomeado desejo as bases para um novo Estado Democrático de Direito em um país destroçado pela ambição desmedida de um juiz friamente parcial e de um presidente indiferente à vida humana. 

Temos, agora, de volta, a prerrogativa do futuro – que voltou a habitar as possibilidades do presente.

Publicado originalmente no blog Gustavo Conde.

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3 Comments

  • Airton
    03/05/2021, 22:56

    Prerrô,
    Vocês são pura alegria civilizatória!
    Discernimento Iluminista.

    Tristes trópicos,
    Temos Prerrogativas!

    Responder
  • ORLY GUERRA
    09/01/2025, 10:51

    GUSTAVO CONDE, sou aposentado do BANESPA, Banco do Estado de São Paulo, que foi doado ao Banco Espanhol Santander pelo presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (ou caridoso), em novembro/2000. Santander "entregou" um cheque de sete bilhões e 50 milhões de reais, e recebeu o BANESPA com VINTE E OITO BILHÕES e 352 milhões de reais de "ATIVOS FINANCEIROS". Recebeu mais quatro bilhões, 141 milhões de reais em títulos federais, com correção pelo índice IGP-DI mais 12% DE JUROS ao ano, para pagar aposentadorias aos IDOSOS aposentados do Banespa (tenho 83 anos). Esses títulos já renderam mais de 150 bilhões de reais, que foram distribuídos para os donos do Santander e acionistas da Espanha. Santander está me USURPANDO 35,7% da minha aposentadoria; estou perdendo R$ 3.057,45 todos os meses. Na justiça nosso processo está parado desde o ano 2002. A justiça brasileira não faz nada CONTRA o SANTANDER. PEDIMOS AJUDA!

    Responder
  • ORLY GUERRA
    09/01/2025, 10:53

    GUSTAVO CONDE, sou aposentado do BANESPA, Banco do Estado de São Paulo, que foi doado ao Banco Espanhol Santander pelo presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (ou caridoso), em novembro/2000. Santander "entregou" um cheque de sete bilhões e 50 milhões de reais, e recebeu o BANESPA com VINTE E OITO BILHÕES e 352 milhões de reais de "ATIVOS FINANCEIROS". Recebeu mais quatro bilhões, 141 milhões de reais em títulos federais, com correção pelo índice IGP-DI mais 12% DE JUROS ao ano, para pagar aposentadorias aos IDOSOS aposentados do Banespa (tenho 83 anos). Esses títulos já renderam mais de 150 bilhões de reais, que foram distribuídos para os donos do Santander e acionistas da Espanha. Santander está me USURPANDO 35,7% da minha aposentadoria; estou perdendo R$ 3.057,45 todos os meses. Na justiça nosso processo está parado desde o ano 2002. A justiça brasileira não faz nada CONTRA o SANTANDER. PEDIMOS AJUDA!

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