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Mortalidade infantil yanomami supera a de Serra Leoa, a pior do mundo

Por Carlos Madeiro

A mortalidade de bebês yanomamis antes de completarem um ano de idade alcançou 114,3 a cada mil nascidos em 2020. O dado consta no relatório Missão Yanomami, do Ministério da Saúde, que visitou o território em janeiro.

A taxa é superior à registrada em Serra Leoa, país na África que tem o maior índice do mundo, segundo ranking da ONU. Lá a estimativa é de 78,2 mortes a cada mil nascimentos por ano.

Segundo o documento da Saúde, as principais causas para a elevada taxa foram:

  • Doenças preveníveis;
  • Falta de acompanhamento pré-natal pelas mães;
  • Falta de assistência médica e remoção aos indígenas;
  • Desnutrição materna e infantil;

Em 2020, morreram 126 bebês antes de completarem um ano. Ainda não há dados completos de 2021 e 2022, o que impede uma comparação.

A taxa entre os yanomamis sempre foi maior do que a média do total registrado entre povos indígenas no país, mas essa diferença cresceu.

Somente entre 2018 e 2022 foram registrados 505 óbitos em menores de um ano de idade, ainda sem os dados finais dos últimos dois anos.

A taxa, apesar de elevadíssima, ainda deve estar subnotificada, já que existem áreas yanomamis que ficaram desassistidas porque foram tomadas por garimpeiros.

Segundo o Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena), pelo menos cinco das 78 unidades no território yanomami foram desativadas por esse motivo.

“Cada polo de saúde monitorava dezenas de aldeias. Se você desativar, as pessoas podem estar morrendo e a gente não consegue saber porque não há o registro”

Renan Sotto Mayor, defensor público federal que visitou a Terra Yanomami em janeiro.

Causas

Segundo o relatório, as principais causas de óbito são por “agravos preveníveis”. Contudo, o documento cita que as unidade não relatam no registro da morte o agravante principal, que seria a desnutrição.

Somente em 2022, entre janeiro e setembro, foram registradas 99 mortes de crianças menores de cinco anos por causa evitável, sendo 67 menores de um ano.

Ao longo dos anos, a frequência de baixo peso cresceu de 49,3%, em 2015, para 56,5% das crianças em 2021. Em algumas comunidades essa frequência chegou a 80% em 2022, como em Paapiu.

Desnutrição se agrava

No que se refere ao manejo da desnutrição grave, o relatório cita que “não há cuidado em relação ao risco de Síndrome de Realimentação.”

Segundo Melissa Palmieri, médica especialista em saúde pública e da Sociedade Brasileira de Pediatria, essa síndrome é uma complicação que ocorre normalmente após um jejum prolongado de quem está desnutrido.

“Ocorre geralmente 72h após o começo de uma dieta por sonda ou pela veia e pode acometer 1/3 dos pacientes que estão nessa desnutrição grave. Existe é um grande problema no tratamento, que precisa de atenção”, diz.

As mortes também ocorrem por falta de assistência. O relatório cita que três crianças de diferentes comunidades do território indígena que necessitavam de transporte aéreo morreram entre 24 e 27 de dezembro do ano passado. Duas delas eram menores de um ano.

Como já denunciado, o documento ratifica que houve, nos últimos anos, falta de profissionais de saúde e de remédios, que agravou ainda mais a situação sanitária.

Sem assistência de saúde, o relatório ainda cita que a cobertura vacinal de crianças vem caindo ao longo dos anos:

Melissa Palmieri explica ainda elevadas taxas de mortalidade infantil em grupos são resultado de uma desassistência durante o período perinatal (que vai de 22 semanas da gravidez a 7 dias após o nascimento), que inclui, por exemplo, a verificação de malformação congênita e doenças da mãe.

Outro ponto que ela cita é que a desnutrição pode causar problemas no sistema de defesa e perdas de massa muscular e gordura. Segundo o relatório da Saúde, o baixo peso nas gestantes atingiu 46,9% delas em 2022.

A mãe não se nutrindo bem, ou seja, sem vitamina, sem proteína e até intoxicada, não vai ter condições de suprir as necessidades do seu bebe, especialmente durante os sete dias iniciais.”

Melissa Palmieiri, pediatra

Publicado originalmente no UOL.

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