Por Fernanda Vivas, Gustavo Garcia e Filipe Matoso
Felipe Santa Cruz discursou na cerimônia de posse da nova direção do TST, à qual presidente estava presente. Ele não aplaudiu fala. Na véspera, Bolsonaro ofendeu jornalista.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, foi aplaudido nesta quarta-feira (19), em discurso no Tribunal Superior do Trabalho (TST), ao mencionar mulheres trabalhadoras, entre as quais jornalistas e magistradas, e criticar a “cultura machista” que, segundo ele, faz persistir a desigualdade salarial e “perpetua” a injustiça e o desrespeito às mulheres.
Felipe Santa Cruz fez a declaração em discurso durante a cerimônia de posse da nova presidente do TST, Cristina Peduzzi, primeira mulher a comandar o tribunal em mais de 70 anos.
Nesta terça (18), o presidente Jair Bolsonaro ofendeu a jornalista Patrícia Campos Mello, da “Folha de S.Paulo” ao questionar a atuação da jornalista em reportagens sobre o disparo em massa de mensagens. “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo [pausa, pessoas riem] a qualquer preço contra mim”, disse Bolsonaro a apoiadores na porta do Palácio da Alvorada.
“Na pessoa da nossa presidente, portanto, homenageio todas as mulheres que diuturnamente se dedicam à Justiça no Brasil e, também, na sua pessoa, cumprimento todas as trabalhadoras brasileiras, e todas as mulheres presentes nesta cerimônia. Jornalistas, magistradas, trabalhadoras da Justiça do Trabalho e advogadas”, disse Santa Cruz durante o pronunciamento no TST.
Presente ao evento no TST, Jair Bolsonaro não aplaudiu a fala do presidente da OAB, do qual é desafeto. Os dois tiveram um embate em julho do ano passado, depois de Bolsonaro ter afirmado que o pai de Santa Cruz foi assassinado nos anos 1970 pelos próprios companheiros de um “grupo terrorista” de luta armada e não por agentes da ditadura militar.
“A luta da ministra [Cristina Peduzzi], que hoje alcança esse importante reconhecimento, continua sendo a luta de milhões de mulheres hoje. Mulheres que ainda enfrentam uma cultura machista que faz persistir a desigualdade de gênero em salários, processos seletivos e de progressão na carreira; que perpetuam a injustiça e, muitas vezes, o desrespeito às nossas trabalhadoras no exercício das suas funções”, afirmou o presidente da OAB.
Felipe Santa Cruz também aplaudido pelos presentes ao dizer que a OAB apoia reformas estruturantes, desde que as mudanças não tenham como “horizonte” o “sacrifício dos mais pobres”.
“Necessitamos de reformas que, de fato, democratizem e modernizem o país, tornando-o mais justo, mais eficiente e mais competitivo no mercado internacional. No entanto, nenhuma reforma deve ter como horizonte o sacrifício dos mais pobres e prescindir da participação democrática dos mais diversos setores da sociedade civil”, concluiu.
Reações
Nesta terça, diversas entidades da sociedade civil manifestaram repúdio aos ataques do presidente à jornalista, afirmando que as declarações foram “misóginas”, “lamentáveis” e “incompatíveis com os princípios da democracia”.
Nesta quarta, um grupo formado por 71 senadores e deputados pediu à Procuradoria Geral da República (PGR) que investigue Bolsonaro.
O documento diz que, além de ter ofendido “os mais basilares primados da igualdade de gêneros e da dignidade da pessoa humana”, o presidente “atentou contra a liberdade de expressão jornalística”.
Texto publicado originalmente no G1.
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