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Nota de solidariedade aos Jornalistas da Folha

Nota de solidariedade aos Jornalistas da Folha

O Grupo Prerrogativas manifesta plena solidariedade e apoio aos jornalistas da Folha de São Paulo que assinaram manifesto questionando o espaço concedido no jornal para textos considerados racistas que negam décadas de pesquisas e estudos sobre a questão racial no Brasil.

O documento assinado por mais de duas centenas de jornalistas é uma peça histórica. Serve de alerta a todos os brasileiros contra dois grandes riscos que são agravados a cada vez que um veículo respeitado como a Folha dá voz a discursos tão retrógrados. Um deles, o mais óbvio, é o incremento do racismo. O outro, mais sutil, é o risco de perda de credibilidade não somente do jornal, mas de toda a imprensa.

Lamentavelmente, o periódico parece não ter entendido a gênese das agressões verbais e físicas que ele e seus funcionários vem sofrendo por parte de hordas extremistas. A imprensa séria começa a ser desacreditada justamente quando se inicia a proliferação de discursos baseados em revisionismos históricos, que sempre atacam grupos historicamente oprimidos, como mulheres, homossexuais e negros. O “polemismo” politicamente incorreto é pai do chiqueirinho de Bolsonaro. 

O diferencial entre um grande jornal e páginas levianas da internet deve estar justamente na seriedade dos textos que o primeiro leva aos leitores. A polêmica vazia é a característica dos perfis de redes sociais. Quando a Folha permite que suas páginas sejam usadas para a promoção de ideias absurdas como a de que o racismo é praticado pelas pessoas negras, pode até ganhar audiência momentânea, mas reforça enormemente o poder dos gabinetes do ódio que se voltarão contra ela mesma.

O diretor de redação do jornal queixa-se de que o manifesto dos jornalistas não mencionou o fato de que a Folha contratara colunistas negros, o que provaria não haver benevolência com o racismo. O jornal aí comete um engano. O que comprovaria uma postura antirracista do jornal seria mudar de postura após perceber que todos esses colunistas negros se sentiram ofendidos e indignados com o lamentável artigo gerador da última controvérsia.

Em respeito à memória de Elza Soares, devemos lembrar da sua voz denunciando que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, que vai de graça para o presídio e para debaixo do plástico, que vai de graça para o sub-emprego e hospitais psiquiátricos. 

No momento em que as células neonazistas explodem no país, em que as políticas afirmativas passam por revisão, em que o presidente da República ousa pesar quilombolas em arrobas, a Folha realmente acredita que textos sustentando a falácia do racismo reverso representam pluralismo? Não representam. São apenas racismo. 

A reação da direção do jornal, chega a ser hostil aos profissionais incomodados, despreza mínimos princípios civilizatórios e atenta contra a razão e contra a essência da imprensa livre. O jornal devia ser grato aos seus funcionários. Esses 208 jornalistas estão lutando não apenas por um mundo mais justos. Estão lutando pela própria Folha.

Grupo Prerrogativas, 24 de Janeiro de 2022.

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