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Direitos humanos para humanos golpistas

Direitos humanos para humanos golpistas

“E a turma dos direitos humanos, onde está agora?”, esbravejam os invasores detidos após defecarem, uns literalmente, na democracia brasileira. Bem, prazer, nós somos a turma dos direitos humanos, tudo bem por aí? Pelas imagens de seus celulares, parece que sim. Apesar de vocês matarem idosas de fake news e confundirem prisão com campo de concentração, mesmo apoiando presidente que usa retórica e estética neonazistas, estamos aqui.

Faz tempo que não nos falamos. Desde que decidiram se aventurar num golpe de Estado para um político para quem direitos humanos é “esterco da vagabundagem”, ficou difícil nosso diálogo. É até compreensível que, agora que a coisa ficou branca (se preta tivesse ficado, a polícia já teria confundido a sua bandeira do Brasil com fuzil), vocês lembrem que existimos. Sem ressentimentos. Veja: o problema do “bandido bom é bandido morto” é que fica mais difícil apoiar o adágio quando o bandido é você.

Quando é você no Complexo Penitenciário da Papuda fica mais difícil defender que a PM entre, execute 111 patriotas e depois o presidente da República os perdoe por indulto. Quando é você o alvo do Judiciário fica mais difícil defender que a imprensa não exista, ou pior sair por aí defendendo regime que esquarteja jornalistas. Quando você é o terrorista da vez, fica difícil criticar a esquerda por retirar da lei de terrorismo atos por motivação política.

Foi a nossa turma, a dos direitos humanos, que inventou que vulneráveis não devem ser detidos (600 idosos, mulheres e crianças foram liberados pela PF); que prisão incomunicável, prática da ditadura militar, é ilegal e, por isso, o seu nome está em listas para que familiares e advogados o encontre; que em até 24 horas você deve passar por uma audiência para ver se há sinais de tortura; que crianças e adolescentes devem ser protegidos pelo Conselho Tutelar (como 23 deles o foram); e que até o Alexandre de Moraes tem que seguir o rito legal. Inventamos tudo isso. De nada, viu?

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo.

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