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Ipec: Lula leva no 1º turno; vexame de Moro; colunistas do PIM e o suicídio

Ipec: Lula leva no 1º turno; vexame de Moro; colunistas do PIM e o suicídio

Por Reinaldo Azevedo

Vieram a público números da pesquisa Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) sobre a eleição presidencial do ano que vem. O instituto é formado por profissionais que pertenciam ao Ibope Inteligência e é comandado por Márcia Cavallari, uma das profissionais mais respeitadas na área. Há também avaliação sobre o governo Bolsonaro e o desempenho pessoal do mandatário. Nem o presidente nem Sergio Moro, sua nêmesis, têm o que comemorar. Muito pelo contrário. Podem se estreitar num abraço insano e chorar as mágoas. Por ora ao menos. Falarei neste texto sobre a pesquisa eleitoral. A avaliação sobre o governo e o presidente fica para outro.

Perco a hora, o celular, o isqueiro…. Mas não o bom humor. Faço aqui um alerta de risco de suicídio coletivo no PIM, o Partido da Imprensa Morista. É aquela gente que tentou nos convencer, depois de se convencer com base na pura crença, de que Sergio Moro já havia se consolidado como o candidato da terceira via. Ele próprio estufou o peito de pombo e saiu por aí a lançar seu livrinho com panegíricos em homenagem a si mesmo, como a dizer: “Sigam-me os que forem patriotas”.

De olho em pesquisas que considero sérias — porque também institutos proliferam mais do que “influencers” nas redes sociais —, contestei essa tal consolidação e o suposto favoritismo de Moro, mesmo como candidato a ficar em terceiro em 2022. Olhem aqui: nada está definido, por óbvio, mas a realidade existe. E convém não confundi-la com desejo.

Se a eleição fosse hoje, aponta o Ipec, Lula seria eleito no primeiro turno nas duas simulações feitas. Não é possível comparar os dados com levantamentos anteriores porque esses cenários não haviam sido testados anteriormente. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento do Ipec foi feito entre 9 a 13 de dezembro e ouviu 2.002 pessoas em 144 municípios. Vamos aos números.

CENÁRIO UM
– Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 48%
– Jair Bolsonaro (PL): 21%
– Sergio Moro (Podemos): 6%
– Ciro Gomes (PDT): 5%
– André Janones (AVANTE): 2%
– João Doria(PSDB): 2%
– Cabo Daciolo (PMN-Brasil 35): 1%
– Simone Tebet (MDB): 1%
– Alessandro Vieira (Cidadania): 0%
– Felipe d’Ávila (NOVO): 0%
– Leonardo Péricles (UP): 0%
– Rodrigo Pacheco (PSD): 0%
– Brancos / Nulos: 9%
– Não sabem / Não responderam: 5%

CENÁRIO DOIS
– Lula: 49%
– Bolsonaro: 22%
– Sergio Moro: 8%
– Ciro Gomes: 5%
– João Doria: 3%
– Brancos/nulos: 9%
– Não sabe/não respondeu: 3%

VITÓRIA NO PRIMEIRO TURNO
Sim, ainda falta muito tempo para a eleição. Muita coisa pode mudar. Fato: hoje, Lula venceria a disputa no primeiro turno, segundo o levantamento do IPEC. Sozinho, nos dois casos, supera a soma de pontos dos adversários. Não se fez simulação de segundo turno.

É claro que sempre pode acontecer o imprevisto, o surpreendente, o disruptivo. Em 2018, o Supremo negou um habeas corpus a Lula, e Sergio Moro, o agora candidato dos 6%, mandou prendê-lo em seguida. O petista estava impedido de concorrer, mas é certo que poderia ter feito diferença se estivesse ativo na campanha de Fernando Haddad. Aí veio a facada. E temos Bolsonaro presidente, com todos os sortilégios conhecidos.

O inesperado se deu, mas dentro de um contexto, não é? Os tempos eram favoráveis à negação da política tradicional, em razão da voragem provocada pelos desatinos e ilegalidades da Lava Jato, que passou, na prática, a fazer campanha para Bolsonaro — tanto foi assim que Moro virou ministro. O ogro que ora nos governa poderia ser tudo, menos uma “novidade”. Mas assim foi vendido.

Vão tentar alguma “surpresa” no ano que vem? Também haverá um contexto. E ele será outro, não?

Em 2022, completar-se-ão seis anos de PT fora do poder. Se o partido perguntar se a vida das pessoas melhorou ou piorou nesse período e que ganho efetivo teve a população mais pobre nesse tempo, convenham, estará fazendo indagações legítimas.

Os números da economia conspiram em favor da eleição de Lula. É claro que os candidatos da extrema direita — Moro (se for mesmo) e Bolsonaro — tentarão associar o PT ao petrolão, ao mensalão etc. A questão é saber se há algo a dizer nessa área que ainda não tenha sido dito e que se sobreponha ao desemprego, à queda de renda, à inflação, ao baixo crescimento… E aos efeitos que isso tudo tem na vida dos pobres.

MORO
Moro seduziu os colunistas do PIM com excentricidades como tribunal de exceção contra a corrupção ou criação de agência independente para combater a pobreza. Vejo as vítimas da fome, das secas, das chuvas, do desemprego… Convenham: não pensam em outra coisa!!! Estão doidas para ver instalado o tribunal de exceção no país, que seria implementado, segundo a sua proposta, com a ajuda de organismos multilaterais. Lá no interior do Rio Grande do Norte, que enfrenta uma seca brutal, se diz muito, entre um esqueleto e outro de boi, morto de fome e sede: “Dizem que esse tal tribunal é coisa lá da Ucrânia”…

E ainda falta Moro contar quanto ganhou para entrar na Alvarez & Marsal, empresa da recuperação judicial da Odebrecht, que a Lava Jato quebrou, e quanto ganhou para sair. Daria para comprar quantos exemplares daquele tríplex de Guarujá, cuja propriedade é atribuída, sem provas, a Lula?

Não! Moro até agora não se consolidou como o nome da terceira via. Isso pode ser desejo de alguns. Fato não é. E vai ser difícil mantê-lo no noticiário mais do que se faz hoje. Há coluna que vai acabar publicando os itens do seu café da manhã e a cor da sua cueca da sorte. Verde oliva?

DORIA
É claro que os números, em si, não são bons também para João Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Mas é um “não bom” com menos gravidade do que é para Moro.

Estes vinham sendo considerados pelo incrível batalhão do PIM (Partido da Imprensa Morista) cartas fora do baralho. Sim, suas dificuldades para desalojar Bolsonaro do segundo turno não são menores do que as de Moro. Numericamente, são maiores, é claro. Mas o Ipec evidencia que nada está resolvido, como alguns tentavam fazer crer.

Vejam lá: no cenário improvável, com aquele monte de candidatos, Ciro está tecnicamente empatado com Moro, que empata até com Doria nos extremos da margem de erro. Na simulação mais plausível, o ex-juiz está tecnicamente empatado com o pedetista, e este, também na margem, empata com o tucano.

Sim, a eleição está longe, mas convém que os adversários de Lula revejam suas respectivas estratégias, não é? Desde que o petista se tornou elegível, em abril, e que seu nome passou a integrar as simulações de votos dos institutos de pesquisa, está na liderança.

Já escrevi a respeito em coluna na Folha. Isso tem a ver, claro!, com o presente e com as perspectivas futuras da economia. Mas também com o passado. Lula foi arrancado artificialmente da disputa em 2018. Foi condenado por um juiz incompetente e suspeito, numa sentença sem provas. Fato: TRF-4 e STJ, instâncias do Judiciário, endossaram a aberração. Mas o STF, que é o tribunal superior, pôs fim à farra. É a voz das vozes da lei. E a pesquisa é, por ora, uma simulação da voz das urnas. A de verdade só vem em outubro de 2022.

Artigo publicado originalmente no UOL.

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